Um Lugar Silencioso — Shhh…

Um suspense original e marcante dirigido por John Krasinski

Milton Ramos Guimaraes
Cinema e Cerveja
3 min readApr 5, 2018

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Título Original: A Quiet Place
Direção:
John Krasinski
Roteiro: Bryan Woods, Scott Beck, John Krasinski
Elenco: John Krasinski, Emily Blunt, Millicent Simmonds
País: Estados Unidos
Duração: 90 min
Estreia: 05/04/2018

O gênero suspense/terror é o mais interessante em Hollywood nos últimos anos. A criatividade dos profissionais envolvidos nesse tipo de projeto é um dos respiros de alívio em meio a uma indústria cinematográfica saturada e repleta de longas sem preocupação estética e narrativa. Essa afirmação é tão verdadeira que tivemos o excelente “Corra!” concorrendo na última edição do Oscar em várias categorias, incluindo melhor filme. As ideias originais encontradas nas produções são frutos de uma geração de diretores que buscam referências em grandes nomes do passado para desenvolver suas histórias, utilizando técnicas e se inspirando naqueles que ajudaram esse tipo de cinema a ser importante atualmente.

O interessante em “Um Lugar Silencioso”, além de sua premissa, é o ator, mais conhecido por seus trabalhos na comédia, John Krasinski assumindo a cadeira de diretor, interpretando um papel dramático e colaborando com o roteiro. Depois do término do filme, fica claro que Krasinski deveria continuar com projetos semelhantes, pois a qualidade da produção é acima da média e traz características originais impressionantes para o gênero.

Uma família vive em uma fazenda afastada das grandes cidades em um mundo pós-apocalíptico. A sociedade foi devastada por criaturas que atacam quando escutam algum som. A única maneira de sobreviver é sem fazer grandes barulhos, o silêncio é a salvação.

É impressionante a habilidade do diretor em construir uma atmosfera imersiva a ponto de não conseguirmos desgrudar os olhos da tela. O silêncio é o grande diferencial. Em boa parte do filme existe apenas a comunicação por sinais, exigindo que os atores tenham que trabalhar suas expressões faciais e sua linguagem corporal, e todos conseguem exercer essas funções de maneira exemplar. Emily Blunt mostra o motivo de ser uma das melhores atrizes da atualidade, apesar de ser incrivelmente subestimada por muitos. Os momentos mais agonizantes são protagonizados por ela, e a construção dessas situações é fantástica. John Krasinski entrega um personagem que carrega um sofrimento enorme dentro de si, talvez por se sentir responsável pela família e ter cometido erros que resultaram em uma grande perda. Podemos ver isso em seu olhar, sempre cansado. Entre as crianças, o destaque fica para Millicent Simmonds. A jovem atriz é, assim como no filme, surda, e consegue trazer aspectos do seu cotidiano para o universo fictício da obra. A forma como ela reage as situações e a interação com os outros atores, principalmente com Krasinski, revelam o seu potencial e nos deixa ansiosos para acompanhar sua recente carreira.

O roteiro, apesar de ser bem amarrado, apresenta alguns furos e falhas comuns em filmes do gênero, mas os pequenos deslizes não afetam o projeto, que segue a mesma estrutura até o final. Um ponto que deixou a desejar foram as criaturas. Esperava algo mais original em relação ao design e ao conceito por trás delas. A ideia do som é interessante, mas o jeito que isso é aplicado ao desenvolvimento dos monstros poderia ter sido melhor trabalhado. A ambientação consegue trazer o clima que o filme pede e lembra a fazenda do longa “Sinais”, do diretor M. Night Shyamalan.

“Um Lugar Silencioso” entra na lista de grandes obras de suspense/terror da atualidade. A competência dos envolvidos no projeto pode ser vista em tela, desde o roteiro até a construção de cenários. John Krasinski é um excelente diretor e fica a vontade de assistir mais trabalhos comandados por ele. Quem diria que um ator de comédia deixaria diretores especialistas no gênero de boca fechada.

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