Duna — O sonho que deu lugar ao minimalismo insuficiente de Denis Villeneuve

Diretor franco-canadense adapta a famosa obra de Frank Hebert com pouca inspiração visual e como um piloto de série com três horas.

Vítor Marra
Cinema e Cerveja
3 min readNov 3, 2021

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Título Original: Dune

Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Denis Villeneuve

Elenco: Timothee Chalamet, Oscar Isaac, Josh Brolin, Rebecca Ferguson, Jason Momoa, Javier Bardem, Zendaya, Stellan Skarsgaard, Dave Bautista, David Dastmalchian, Charlotte Rampling, Chang Chen, Stephan Henderson, Sharon Duncan-Brewster, Babs Olusanmokun.

País: EUA
Duração: 155m
Estreia: 21/10/2021

Duna de Frank Herbert, a lenda das lendas dentro do cinema norte-americano. A adaptação inadaptável. Sendo a obra bíblica da ficção científica, é aceitável tomar como verdade essa afirmação — a questão em torno da obra de Herbert sempre esteve sobre seu potencial em, possivelmente, trazer uma concepção de universo rica em estética e também com grandes nomes. Por décadas, era algo que prometia ser transformar a ficção científica

Duna é sobre Paul Atreides, um jovem herdeiro do império de seu pai, Duque Leto, que reside no planeta Caladan, num futuro — muito — distante, algum lugar após a humanidade lutar e superar a revolução das máquinas — e começou dali uma era onde o primor tecnológico foi deixado para trás.

O principal motor desse futuro resume-se a uma especiaria chamada mélange: encontrada na areia do planeta deserto Arrakis, onde o pai do jovem protagonista deve intervir para controlar, depois de uma ordem do imperador deste universo. Assim começa a saga de Paul Atreides projetada por Herbert.

Alexandro Jodorowsky, Pink Floyd, Salvador Dalí, Orson Welles, tudo que referenciava à uma geração, à uma era, quase existiu em Duna. Nomes grandes demais se colocavam junto à obra que nunca conseguia ser adaptada e quase conseguiram fazer com essa história a maior adaptação de todos os tempos .— O que infelizmente não chegou a acontecer e deu lugar à versão de David Lynch, lançada em 1984.

O filme que todos preferem chamar de delírio coletivo, já que o próprio diretor chegou a afirmar que sua adaptação é sua única insatisfação em toda a carreira, devido aos problemas que teve com o estúdio e a falta de orçamento, na época.

Com uma filmografia tão bem recebida, Villeneuve se colocou como o diretor certo para apossar-se do mito em torno de Hollywood. Duna é grande livro, grande história contada — isso não se põe em jogo. E nesse pretexto perfeito, fazia sentido ressignificar a obra de Frank Herbert de um ponto de vista estético que fosse ultrajante — algo que precisava transcender e também significar alguma coisa à quem pisa no mundo em 2021. Os diretores anteriores entendiam isso.

Mas se a pretensão-estética que Jodorowsky esperava de seu projeto nunca realizado era uma fusão de designs e culturas distintas, a visão do diretor franco-canadense é totalmente pé no chão em todos sentidos: a arquitetura e o figurino se camuflam no clima nublado e acizentado que o diretor emprega durante as três horas de filme.

Tratando o projeto com pouca pretensão visual, Villeneuve cria aqui um piloto de série da HBO com três horas. Tal qual uma série, a chave que faz a coisa funcionar são diálogos, personagens…história. Em outras palavras: o material ele já tinha, o que faltava, resolve renegar. A arquitetura é borrada pelo velho cinza pálido (dessa vez completamente borrado, mesmo) diretamente dos outros filmes que fez, criando uma relação indiferente com as ornamentações que rodeiam a história — tudo que remete à visual é traduzido com desinteresse.

Os Harkonnen, dessa vez não trazem consigo uma excentricidade que poderia ter sido abordada, aqui não passam de skinheads nervosos com trajes pretos. Aliás, ter visto Stellan Skarsgaard na pele do Barão, sempre sombreado e mal iluminado — tentando criar uma versão própria do Brando de Apocalipse Now, fica no limite de uma paródia e perde a oportunidade de ir além no que se refere à antagonismo.

Então, como passar três horas com um projeto que se limita a ser produção de TV de alto nível. mas ainda como produção de TV ? o que completa essa frustração visual são as lutas que praticamente inexistem nas cenas que entraram no corte. Faltou coreógrafo.

‘’Sonhos rendem boas histórias, o que importa está no mundo real’’.

Ambições com uma versão cinematográfica de Duna, só existiram mesmo em sonhos.

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