Review — Arctic Monkeys — Tranquility Base Hotel & Casino

Davi Almeida
Cinema e Cerveja
Published in
3 min readMay 14, 2018
Arctic Monkeys — Tranquility Base Hotel & Casino (2018)

Eu sou fã do Arctic Monkeys há mais de doze anos. Desde quando meu amigo Danilo me apresentou I Bet That You Look Good on The Dancefloor. Eu odiei. Era muito rápido, muito esporro do nada. Eu estava acostumado com o rock do Queen e do The Who; brilhante e muito bem estruturado, com as guitarras e as vozes entrando no lugar certo. Eu não aceitava o que o Arctic Monkeys estava fazendo. Estava errado.

Só que eu não conseguia parar de ouvir. Primeiro foi a música no repeat, depois o álbum inteiro. Então, eu passei a esperar ansiosamente cada novo lançamento. E todas as vezes, o processo se repetia. Eu estranhava; parecia pior do que tudo que eles tinham feito, mas simplesmente não conseguia parar de ouvir. Doze anos depois, eles eram minha banda favorita. Conhecia todas as músicas, todos os B-Sides, já tinha assistido a três shows.

Assim, foi com muita empolgação que eu recebi o anúncio para o novo Tranquility Base Hotel & Casino. Ouvi o teaser dezenas de vezes, cacei spoilers no Reddit e fiquei contando os dias. Quando, enfim, consegui ouvir o álbum inteiro, eu não entendia o que estava acontecendo:

  • Não era rock
  • Não tinha os riffs emblemáticos
  • Não tinha a bateria espetacular do Matt Helders
  • Não tinha letras diretas e geniais sobre o cotidiano

Eu tive que ouvir diversas vezes para entender o que estava acontecendo. Compartilho minhas percepções. Normalmente, eu gosto de falar as coisas indo direto ao ponto, mas foi bem difícil dessa vez. Tranquility Base é um animal peculiar. Tenham paciência comigo.

É um álbum conceitual. Algo parecido com o que o Bowie fez com Ziggy Stardust ou com o The Who em seu Tommy. Alex Turner construiu um universo futurista no qual existe um hotel na Lua e criou histórias em torno dessa visão, com uma pegada noir e cantada por crooners. Em várias passagens causa estranhamento (Golden Trunks), em outros casos é brilhante (The Ultracheese).

Não é um álbum de rock. É difícil classificar o que o Arctic Monkeys está fazendo. Existe um clima geral das décadas de 40 a 60. Às vezes, lembra Frank Sinatra (como na música One Point Perspective), em outras, lembra jingles (como em The World’s First Ever Monster Truck Front Flip) e, claro, também soa exatamente como deveria soar um álbum do Arctic Monkeys (como em Four Out of Five).

Arctic Monkeys no estúdio La Frette, onde o álbum foi gravado. Foto oficial da banda. (Fotógrafo: Zackery Michael)

No fim, permanece a pergunta: é bom? Eu achei lindo, mas eu sou fã e reconheço as limitações da minha opinião sobre o trabalho dos caras. Prevejo que a maior parte dos críticos musicais irá elogiar o trabalho. É exatamente o tipo de mudança de estilo que gostam. O público em geral, acostumado com o recente AM, irá odiar. Vai xingar, vai espernear. Independentemente de quem avaliar, uma conclusão permanece. É o pior álbum do Arctic Monkeys. Não porque é conceitual. Não porque não é de rock. Simplesmente porque, dentro da proposta que eles mesmos construíram, não entregam no nível que deveria. Os crooners que o Alex Turner tanto tenta emular não faziam apenas músicas climáticas ou um bom vocal. Eram clássicos instantâneos. Nat King Cole, Frank Sinatra, Bing Crosby. São reverenciados até hoje por seus clássicos. Tranquility Base não entrega isso.

É um álbum lindo de se ouvir, que melhora a cada repetição. É uma experimentação, uma abertura de novas possibilidades. Não muito diferente do que eles fizeram com o Humbug anos atrás. Mas é inferior ao potencial da banda.

Veredito: 4 estrelas de 5.

--

--