Tarantino e Bacurau: crítica política e estilo

Giovanna Perroni
Cinema e Cerveja
Published in
2 min readApr 14, 2020

“Quem nasce em Bacurau é o que?” — “É gente!”.

Essa mesma frase poderia ser readaptada para definir os personagens negros e judeus de Tarantino. É possível, com um olhar um pouco mais atento, especialmente dos fãs de Quentin Tarantino, cotejar algumas de suas obras àquela de Dornelles e Mendonça Filho, famosa Bacurau. Assim como “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”, Bacurau é definida pelos críticos como um Fábula de Vingança. Os citados longa-metragens do Tarantino são ficções históricas que nos servem um quentinho e bem temperado prato com gostinho de justiça, promovendo a troca da detenção de poder, dando ao expectador aquilo que ele sempre desejou mudar na realidade dos acontecimentos brutais. O resultado é o imensurável prazer da justiça.

Bacurau, 2019 ( Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles)

Assim como no filme brasileiro, os personagens são tridimensionais, o que dá um ar de realidade, gerando aproximação através do reconhecimento. Mas, principalmente, são empoderados, vívidos, detêm uma personalidade muito bem estabelecida, autônoma e afirmativa. As críticas políticas, em ambos os casos, passam longe da sutileza e são facilmente perceptíveis. Motivo principal, acredito, do sucesso de Bacurau.

Porém, há algo que me chama atenção: o longa brasileiro pareceu gerar mais incomodo na elite conservadora do que os norte-americanos. Além de vários motivos, consigo evidenciar um bem simples: o norte americano não é o herói, mas a ameaça. Isso no que se refere à comunidade. Para a elite, porém, é um aliado. Como é de praxe. Mas aí temos um porém bem pontual: essa mesma elite não é vista como aliada aos olhos dos estadunidenses, mas como canal, como instrumento. Essa ofensa pareceu atingir tanto a classe econômica como a política. As comparações e paralelos ficam a cargo do leitor.

Django Livre, 2013 (Quentin Tarantino)

Essa crítica à la carte também compõem o tom tarantinesco, com o mesmo uso do tom cômico. Bem, não podemos esquecer do clássico banho de sangue, jocoso e lúdico, como sempre. Utilizado com a mesma eficiência e artística no nosso querido Bacurau.

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