Returnal

Apesar da crueldade com o jogador em certos momentos, exclusivo do PlayStation 5 é viciante e gostoso de jogar

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas
6 min readJul 22, 2022

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Quando saiu o primeiro trailer de Returnal, eu fiquei empolgado. Mas confesso que a empolgação diminuiu quando anunciaram, pouco tempo depois, que o jogo seria no estilo roguelike. Ter que começar tudo de novo em caso de morte, sem nenhum dos progressos adquiridos durante o jogo, nunca me pareceu muito atraente. Você está lá, indo bem no jogo, e aí em um único vacilo você morre e precisa recomeçar.

Difícil não se empolgar com o primeiro trailer de Returnal. Desenvolvido pela produtora Housemarque e anunciado como exclusivo da nova geração, ele trazia gráficos muito bonitos, o surgimento de uma nova IP nos videogames e uma jogabilidade voltada para a ação que parecia ser bem empolgante. Infelizmente, logo depois anunciaram que ele seria um roguelike, um gênero que nunca me atraiu. O fato de precisar começar do zero toda vez que acontece uma única morte nunca me pareceu algo divertido. Mesmo assim a vontade de jogar Returnal permaneceu. E o jogo é realmente lindo e com uma jogabilidade excelente, mas é difícil não se frustrar quando nos primeiros cinco minutos você já acaba morrendo.

O trailer de lançamento de Returnal foi empolgante para qualquer jogador de longa data. Ele mostrava gráficos lindos, jogabilidade voltada para ação insana e exclusivo da nova geração, o que era um sinal de que usaria todo o potencial do recém lançado PlayStation 5. O fato de ser roguelike chegou a dar uma desanimada, já que prefiro jogos com uma progressão linear, em vez de ficar repetindo sempre as mesmas fases até me aprimorar. Apesar disso, resolvi dar uma chance ao game e não me arrependi. Sim, ele é muito cruel e frustrante em certos momentos, o jogador vai morrer várias vezes (sério, várias mesmo), mas a vontade de se aprimorar a cada novo ciclo é maior do que qualquer frustração. Você se pega sempre querendo superar o tempo que permaneceu vivo no ciclo anterior, inimigos que antes davam trabalho de repente são abatidos com facilidade. Sem perceber, você já está em um ciclo de três horas, com alguma das melhores armas do jogo, os melhores aprimoramentos e itens e aí…você morre.

Mesmo com mais de 24 horas de jogo esse bicho ainda me dá calafrios

Quando saiu o primeiro trailer de Returnal…Não, eu não vou repetir novamente tudo o que já foi dito nos três parágrafos anteriores, acho que já deu pra ter uma boa ideia do que se trata Returnal. E se você já ficou de saco cheio de ler sempre as mesmas informações no começo desse texto, o jogo talvez não seja pra você. Ou talvez seja, afinal, eu também nunca achei que ficaria viciado em um roguelike, porém aqui estou eu com mais de 24 horas de jogo e ainda sem cansar dele (e até o momento desse texto sem zerar também). A história do jogo é tão intrigante e contada de forma tão inteligente que, mesmo quando nós morremos e temos que começar tudo de novo, Returnal sempre nos passa a sensação de que o enredo avançou e que aquela morte foi até algo bom. Diversas vezes me peguei desanimado por ter morrido mais uma vez, mas aí aparecia um novo arquivo de áudio da protagonista Selene ou uma cena nova em uma casa misteriosa e isso apenas contribuía para que eu continuasse jogando só mais uma partidinha (ou várias).

Mas claro que nada disso se sustentaria se a jogabilidade fosse ruim e é aqui que Returnal brilha como poucos. A jogabilidade dele é impecável, não apenas nos controles da protagonista, mas no controle da câmera e dos cenários. Durante todo o meu tempo de jogo, em nenhum momento me encontrei numa situação que eu tenha morrido porque o ângulo da câmera me atrapalhou de alguma maneira. É praticamente impossível culpar o jogo pelas nossas derrotas, tamanha é a precisão dos controles no game. O combate é tão fluido e os controles tão precisos que, em pouquíssimo tempo, já estamos atirando, pulando e esquivando de ataques inimigos como se fosse a coisa mais natural do mundo. O combate começa a parecer um balé muito bem coreografado, tudo em uma taxa de 60 quadros por segundo sem quedas aparentes. E quando as coisas parecem estar ficando repetitivas demais, você finalmente consegue passar de algum chefe, ganha uma habilidade permanente nova e tudo é novo de novo. Até mesmo o último mapa consegue trazer um frescor, uma vez que ele dá um jeito de mudar bastante o modo como jogamos até ali, mesmo que não apresente nenhuma mecânica nova.

O design dos chefes são um show à parte

Por último, mas não menos importante no quesito jogabilildade, está o controle do PlayStation 5, o DualSense. Ele cumpre a promessa de passar a maioria das sensações do jogo para as mãos do jogador. Cada arma tem uma vibração diferente ao atirar, assim como cada ataque dos inimigos, além de poder sentir os pingos de chuva que caem do céu. Já o gatilho esquerdo é usado com duas funções: pressionando até a metade ele serve de mira e pressionando até o final ele ativa o tiro especial da arma equipada. São pequenos detalhes, mas que acabam deixando o game ainda mais gostoso de se jogar.

Graficamente, Returnal também entrega tudo que esperamos em um jogo da nova geração de consoles. Além dos gráficos em si serem muito bonitos, tudo é apresentado em 4K, com Ray Tracing para iluminação e taxa de 60 quadros por segundo. Nos combates mais insanos temos imagens belíssimas, com tiros em cores neon se espalhando pra tudo quanto é lado. Pena que não podemos parar para apreciar, senão corremos o risco de morrer e ter que começar tudo de novo. Além disso, os cenários também são muito bonitos e variados. As plantas de cor azul neon do primeiro cenário já são um belo cartão de visitas, mas o jogo ainda consegue encantar com um belíssimo deserto que possui um vermelho intenso como cor da sua areia. E não posso deixar de citar o SSD, que substituiu os antigos HDs na nova geração de consoles. O carregamento entre os ciclos de jogo ou entre um mapa e outro é praticamente zero. Não existem telas de loading entre a morte da protagonista e voltarmos a jogar, as cenas que aparecem depois que o jogador morre podem inclusive ser puladas segurando o botão X. Mudar de cenários de forma praticamente instantânea é realmente muito impressionante.

Com uma jogabilidade sem defeitos e utilizando praticamente todos os recursos da nova geração de consoles, Returnal é um jogo praticamente obrigatório para qualquer dono de PlayStation 5 por aí. Principalmente agora que ele é um dos jogos disponíveis na assinatura PlayStation Plus Extra. Me arrisco a dizer que daqui a uns seis ou sete anos, quando essa geração chegar ao fim, este jogo ainda seja lembrado como um dos melhores dela. Só esteja preparado para morrer muito, além repetir diversas vezes as mesmas fases e enfrentar os mesmos inimigos. Mas quer saber de uma coisa? Você vai acabar adorando fazer isso.

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.