The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom | Review

Sucessor de Breath of the Wild já é o melhor jogo de 2023

Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas
8 min readJun 21, 2023

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Desde que foi anunciado como uma continuação direta e no mesmo mundo do seu antecessor (algo raro na franquia), The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom foi recebido com um misto de empolgação e desconfiança por parte dos fãs. Se por um lado parecia empolgante a ideia de explorar a Hyrule de Breath of the Wild após a derrota de Calamity Ganon, por outro ficou aquele receio de que o jogo fosse apenas uma DLC com preço de jogo completo. Felizmente esse medo se mostrou infundado e, depois de 190 horas de jogo, posso afirmar que Tears of the Kingdom não é apenas uma excelente continuação, mas um sério candidato a melhor jogo de 2023. O game pega tudo que deu certo no seu antecessor e faz maior e melhor, além de acrescentar várias coisas novas e consertar outras que foram criticadas pelos fãs no jogo anterior.

O medo de que o jogo fosse mais do mesmo já se dissipa assim que iniciamos a história , quando somos apresentados a uma cena inicial que mostra Link e Zelda explorando as profundezas do Castelo de Hyrule para descobrir a origem de uma misteriosa gosma vermelha chamada de Gloom, que seria uma espécie de essência maligna do jogo. Essa sequência inicial, além de possuir um desfecho empolgante (incluindo aí o retorno do vilão Ganondorf, que é muito mais interessante que o Calamity Ganon do anterior), já deixa claro que a história recebeu uma preocupação maior por parte dos desenvolvedores. Ao contrário de Breath of the Wild, onde a missão principal era simplesmente “Destruir Ganon”, em Tears of the Kingdom a missão envolve muito mais coisas e apresenta uma trama um pouco mais complexa e que dá mais sentido para que Link (e o jogador) realmente queiram explorar o reino de Hyrule.

Se no jogo anterior a exploração era guiada apenas pela vontade do jogador em andar por aquele mundo, aqui ela é incentivada não apenas pelas missões principais, mas também por missões secundárias interessantes. São dezenas de missões que, a princípio, podem não parecer ter ligação com nada, mas que cedo ou tarde mostram ligações com a história principal. Uma delas inclusive possui uma revelação que vai ser importante lá no final do jogo. E se as missões secundárias estão excelentes, Tears of the Kingdom brilha de vez nas missões principais, que contam com cutscenes longas e belíssimas. A história está realmente fantástica e finalmente dá mais destaque e importância para a princesa Zelda, personagem título da série. Obviamente não vou dar spoilers aqui, mas basta dizer que em diversos momentos eu fiquei realmente emocionado. O momento em que pegamos a Master Sword é uma das coisas mais bonitas que já vi em um videogame. E todo o clímax do jogo possui um ritmo empolgante e emocionante, culminando numa cena final capaz de fazer até os mais fortes soltarem algumas lágrimas.

Vale mencionar ainda a capacidade da Nintendo para criar tramas que são, ao mesmo tempo, simples e empolgantes. É o velho clichê do bem contra o mal, do cavaleiro que precisa derrotar o vilão e salvar a princesa, mas tudo feito com muito capricho e reviravoltas inesperadas. E, apesar do tom extremamente sombrio que permeia toda a aventura (a trama passa por temas como os perigos das mudanças climáticas, poluição da natureza e até vício em drogas), no final das contas ela ainda consegue ser uma história sobre heroísmo e esperança. Importante ressaltar também que, apesar de ser uma continuação do jogo anterior, é perfeitamente possível jogar este novo sem nenhum conhecimento prévio. A história é autocontida. Porém, jogadores que já estão familiarizados com o mundo do jogo são recompensados com pequenas coisinhas que nos mostram que toda a jornada anterior valeu a pena. Por exemplo, Link não é mais um garoto desconhecido tentanto ajudar as pessoas. Pelo contrário, grande parte da população trata o personagem como o maior espadachim de Hyrule, o escolhido da princesa Zelda. É emocionante reencontrar personagens importantes de Breath of the Wild e ver o carinho com que eles tratam Link e perceber que ficaram grandes amigos depois da aventura anterior. Visitar Tarrey Town, uma cidadezinha que ajudamos a construir, é muito gratificante, assim como a casa de Hateno Village que podemos comprar no jogo anterior.

Além de uma história muito mais engajante, Tears of the Kingdom também deixou a exploração muito mais recompensadora. Uma das minhas críticas ao jogo anterior era que muitas vezes a gente andava muito para chegar em um local de difícil acesso e, chegando lá, tinha um baú contendo apenas um item comum. Aqui isso foi bastante reduzido, quanto mais você explora maiores são as chances de encontrar itens que realmente fazem valer todo o esforço. Com poucas horas de jogo, por exemplo, eu já tinha achado uma túnica verde do Link de um dos jogos anteriores da franquia. Achar essa simples peça de roupa me fez ter ainda mais vontade de explorar cada canto do mapa. Praticamente em todo lugar de Hyrule tem algum NPC com alguma história interessante para contar, com alguns deles fornecendo sidequests ou pelo menos pistas para lugares importantes. Jogadores que amam explorar cada cantinho do mapa serão muito bem recompensados.

E por falar em explorar cada canto, o tamanho do mapa agora é três vezes maior, já que além da superfície, ainda temos as ilhas no céu e as profundezas de Hyrule. Além disso, o próprio mapa na superfície sofreu diversas alterações e ficou bem maior. Agora existem centenas de cavernas espalhadas pelo mapa apenas esperando que os jogadores as explorem. Elas vão desde cavernas bem pequenas até algumas realmente grandes, com vários túneis e diferentes saídas. E muitas delas possuem baús com roupas ou armas especiais, sempre recompensando a exploração.

Mas vamos a uma das grandes novidades do novo jogo: as ilhas no céu. Elas não servem apenas como um cenário novo de exploração, mas são excelentes para se locomover através de Hyrule. Se no jogo anterior era cansativo alcançar lugares altos porque a gente tinha que escalar, aqui basta que o jogador se teleporte para alguma ilha e se atire lá de cima para alcançar mais facilmente alguma montanha que fica na superfície. Além disso, algumas ilhas apresentam áreas com gravidade reduzida, o que traz um certo frescor ao gameplay, fazendo com que o jogador precise repensar o modo de jogar, principalmente durante uma batalha. Uma esquiva em local de gravidade reduzida pode fazer com que o pulo seja muito longo e o jogador caia da ilha.

Já as profundezas apresentam o desafio da locomoção na completa escuridão, contando apenas com algumas pequenas flores luminosas que o jogador pode ir atirando pelo caminho para iluminar um pouco. Além disso, grande parte da região está coberta pelo Gloom e, caso Link fique muito tempo parado em cima dessa gosma, ele começa a perder corações de forma permanente até voltar para a luz da superfície. Os inimigos da região também tem o seu dano baseado em Gloom e até mesmo o menor deles pode causar dor de cabeça para o jogador. Aliás, de forma geral o combate em Tears of the Kingdom está muito mais desafiador do que seu antecessor. É muito fácil morrer até em partes iniciais do jogo. Isso provavelmente acontece para equilibrar os novos poderes de Link que, nas mãos de jogadores experientes, podem deixar tudo bem mais fácil.

Começando pelo Fuse, a habilidade de fundir objetos a qualquer arma, escudo ou arco que Link tenha à disposição. As armas quebráveis estão de volta, agora com a explicação de que todas elas ao redor do mundo ficaram enfraquecidas após a ressurreição de Ganondorf. Usando a habilidade Fuse podemos deixar as armas mais fortes e mais resistentes. Quer uma arma com poderes de fogo? Equipe um rubi nela ou o chifre de um dragão. Uma flecha que percorra distâncias maiores? Basta colocar uma asa de morcego. O interessante é que certas armas combinam melhor com certos elementos do que outros e fica a cargo do jogador descobrir as melhores combinações para o seu estilo de jogo.

Já a habilidade Ultrahand, que permite pegar e combinar praticamente qualquer objeto do jogo, é um prato cheio para os jogadores que adoram construir coisas. Ver uma ilha muito distante no céu e conseguir construir um veículo que te leve até lá é extremamente gratificante. Da mesma forma, é engraçado quando o funcionamento do veículo acaba saindo totalmente diferente do que o planejado e você acaba se sentindo como o Coiote tentando pegar o Papa-Léguas quando mais uma das suas armadilhas dá errado. Basta procurar vídeos das construções no YouTube para perceber que o céu é literalmente o limite para aqueles jogadores mais criativos.

As duas últimas habilidades de Link são bastante voltadas para a exploração: Rewind e Ascend. A primeira faz com que objetos voltem no tempo, então se uma pedra caiu de alguma ilha no céu basta subir nela usar Rewind e chegar até a tal ilha com facilidade. Além disso, esta habilidade também pode ser usada em combate. Se um inimigo atira uma pedra gigante em você, porque não fazer essa pedra voltar para ele? Já o Ascend permite que Link atravesse o teto para chegar no topo de certos locais. E é possível fazer isso em qualquer lugar, ou seja, se o jogador quiser subir no alto de uma montanha mas está com preguiça de escalar, basta achar uma caverna e usar o Ascend para fazer com que Link chegue no topo em poucos segundos. Quem jogou Breath of the Wild sabe o quanto era penoso chegar nos lugares mais altos de Hyrule e Tears of the Kingdom fez de tudo para melhorar esse processo.

Graficamente, o jogo continua a mesma coisa do anterior, com um visual bem cartunesco e cores vibrantes, que é um estilo que eu gosto e acho que combina muito bem com a série. Apesar do Nintendo Switch ser um console portátil e que já possui seis anos de idade, é impressionante como a Nintendo conseguiu entregar um jogo tão bonito. As cores neon, que já eram impressionantes em Breath of the Wild, parecem estar ainda mais lindas nesta continuação. E durante as minhas quase duzentas horas de jogo percebi apenas pequenas quedas na taxa de quadro, mas nada tão drástico quanto às quedas na Lost Woods do jogo anterior.

Com três mapas gigantescos a serem explorados, o retorno das amadas dungeons da franquia, personagens carismáticos e uma história emocionante e empolgante, Tears of the Kingdom não é apenas o melhor jogo do Nintendo Switch, mas talvez seja o melhor da franquia inteira. E talvez não seja exagero dizer que ele é o melhor jogo da geração. A humanidade possui milhares de anos de história e é um privilégio estar vivo justamente na mesma época do lançamento da obra de arte que é The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom.

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Felipe Storino
Cinema & Outras Drogas

Redator de cinema, gibis e games na Mob Ground. Quando não está jogando, está assistindo filmes, séries ou lendo gibizinhos.