Avalanche de Tubarões (2014)

Nota: ☆

Acho que quando Steven Spielberg fez “Tubarão”, em 1975, não tinha a mínima ideia da sua importantíssima contribuição para o cinema de horror, pois sem ele, esse maravilhoso “Avalanche de Tubarões” não seria possível.
O longa dirigido por Scott Wheeler tem uma clara inspiração na obra de Marcel Duchamp, deslocando tubarões assassinos para ataca em montanhas cheias de neve, tal qual um urinol sendo colocado no meio de uma exposição num museu.
O impacto deste deslocamento de elementos, que nos faz refletir sobre o espaço que ocupamos no mundo, só é sobrepujado pelo impacto do trabalho dos atores, todos excelentes em seus papéis de atores amadores que acabaram de sair de algum filme pornô de baixo orçamento para fazer um filme de terror no improviso.
A propósito, a clara referência ao clássico dos anos 70, se faz presente não apenas na figura demoníaca que nada na neve e devora os esquiadores, mas também na crítica ao capitalismo, uma fez que tal como no filme de Spielberg, aqui também temos pessoas mesquinhas preocupadas em faturar com os turistas, enquanto inocentes estão sendo massacrados.
Mostrar o povo sendo assassinado enquanto pessoas faturam muito dinheiro é uma clara alusão ao neo-realismo italiano, um aspecto que permeia toda a película.
Cabe ressaltar que os efeitos especiais também impressionam, pois parecem ter sido feitos por uma criança em fase de alfabetização, dando a entender que o diretor acredita mais na importância do discurso, do que na superficialidade e irrelevância da imagem, algo que acaba valorizando muito mais a complexidade da narrativa.
Como a história não faz o menor sentido, o desenvolvimento é precário, os atores são péssimos e o filme não é nem mesmo divertido como os excelentes Sharknados, temos aqui praticamente uma espécie de tortura em forma de filme. Sendo a tortura uma prática muito comum ao longo do golpe militar, podemos perceber que além de tudo, temos aqui um filme politizado que não se abstém de fazer duras críticas ao sistema.