O letreiro mais famoso do cinema

A História de Hollywood pt.1

Uma lição sobre a indústria de filmes em três atos

Pedro Guerra
Cinema & TV
Published in
4 min readOct 22, 2013

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A sétima arte nem sempre foi tão financeiramente majestosa e concentrada num pólo como é hoje. A brilhante Hollywood ainda era uma pequena vila quado a história do cinema começou a ser contada. Em primeiro lugar, devemos honrar o nome do inglês Eadweard Muybridge, considerado o pai da cinematografia. Ao criar um trecho de apenas três segundos de animação com as fotos de um cavalo correndo, Muybridge marcou a história das artes para sempre. Mais tarde ele ainda inventou o zoopraxiscópio, um aparelho que projetava imagens a partir da rotação de um disco de vidro com imagens sequenciais — tivemos aqui o primeiro projetor de filmes da história, em 1879.

A era pré-hollywoodiana

Mas foram Thomas Alva Edison e William Dickson os pioneiros da cinematografia comercia, quando, em 1889, fabricaram o cinetoscópio. O equipamento consistia em uma longa tira de filme perfurado cheia de imagens sequenciais que rodava rapidamente sobre um foco de luz, criando a ilusão de movimento. Em 1894 foi feita em Nova Iorque a primeira exibição de filme da história, resultando num sucesso imenso. Alguns anos depois os irmãos Lumière ainda aperfeiçoariam o equipamento de Thomas Edison, criando o cinematógrafo.

Vale mencionar que a Edison Studios lançou em 1896 o filme The Kiss, notável por causar um pânico moral sobre a indecência nos filmes. Em 1903 exibiu o The Great Train Robbery, faroeste responsável por inúmeras inovações técnicas nas filmagens, e em 1910 foi lançada a primeira versão cinematográfica de Frankenstein. (O monstro de Mary Shelley não foi o primeiro filme de horror a ser gravado, tampouco foi A Mansão do Diabo [Le Manoir du Diable, 1896] como muitos pensam. Embora o filme de Georges Méliès seja cheio de truques de câmera e muitos efeitos divertidos nos seus três minutos, ainda no ano anterior Alfred Clark gravou A Execução de Mary Stuart [The Execution of Mary, Queen of Scots, 1895], um curta com apenas 15 segundos que mostra tão somente o que o título indica.)

Hollywood e o cinema mudo

Essa era pré-Hollywood durou até 1911, quando uma série de produtores resolveu se mudar de Nova Iorque para uma pequena cidade californiana chamada Hollywood. Do outro lado do país, na costa oeste, os produtores viram vários benefícios: a terra era ensolarada e podíasse filmar o ano inteiro sem preocupação com o clima, a proximidade com o México oferecia mão de obra barata, e o mais importante era que a corte de juízes da região barrava as ofensivas judiciais de Thomas Edison sobre a quebra de direitos autorais. Veja bem, as leis de patentes nos Estados Unidos eram (e ainda são) tão rígidas que muitos juízes consideravam que todo e qualquer filme produzido devia crédito ao criador do aparelho original de cinematografia, Thomas Edison.

Foi nessa curta era que os oito grandes estúdios foram criados, chamados de Big Eight — Metro-Goldwyn-Mayer, Paramount, Warner Bros., RKO, Fox, Universal, Columbia e United Artists. E foi nesse momento que o “sistema de estúdio” criado por eles começou a funcionar paralelamente ao “sistema de estrelas” (que serão explicados mais adiante). Por hora, é interessante saber que nessa época o cinema tomou sua forma de entretenimento popular, provando que os filmes eram comercialmente viáveis e um negócio rentável. Prova disso foi que na década de 20 Hollywood alcançou a marca de 800 filme produzidos por ano, criando estrelas notáveis como Buster Keaton e Charlie Chaplin.

O maior rival do cinema na época, o teatro de vaudeville, mantinha uma cabeça à frente na corrida pela audiência por um motivo bastante importante. O cinema até então era mudo, enquanto na vaudeville havia dançarinas, acrobatas, mágicos, comediantes e animais, tudo muito bem acompanhado pelos músicos no palco. Mas a vaudeville não contava com The Jazz Singer…

Acho que o leitor já tem o bastante por hora. Deixemos a era dourada do cinema norteamericano para outro momento, quando poderemos entender porque os atores e atrizes nos fascinam e inspiram tanto. Até lá, o leitor pode procurar Nosferatu (1922), um clássico silencioso da Alemanha impressionista. E se quiser algo mais americano (e menos assustador), que conheça Douglas Fairbanks em A Marca do Zorro (The Mark of Zorro, 1920), Os Três Mosqueteiros (The Three Musketeers, 1921) ou O Pirata Negro (The Black Pirate, 1926) — esse último está disponibilizado na íntegra no YouTube porque já caiu em domínio público. Todos eles são de uma qualidade enorme, mesmo para os padrões da época. Afinal, não é só de Chaplin que vive o cinema mudo.

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Pedro Guerra
Cinema & TV

Pseudojornalista, queria escrever tanto quanto sonho.