Um pouco sobre Steve Jobs e seu sonho chamado Pixar
Como o empresário comprou uma divisão falida e a transformou no maior estúdio de animação já visto
No último dia 5 de outubro se completaram dois anos da morte de Steve Jobs, co-fundador da Apple e visionário da tecnologia. Depois de sete anos lutando contra um câncer no pâncreas, que já o havia forçado a renunciar o cargo de CEO dois meses antes, a doença o venceu e o mundo viu partir um dos maiores entrepreneurs das últimas décadas.
Como figura épica no mundo tecnológico, Jobs recebeu todas as honrarias e homenagens que a era da internet pode conferir — sites como o da Apple, da Pixar, da Casa Branca, da LucasFilms, dos mais importantes jornais do planeta e até das concorrentes e rivais Microsoft e Google homenagearam o homem e cristalizaram a figura mítica em que Jobs acabou se transformando. Steven Paul Jobs marcou a história ao menos três vezes — ao lançar o iPod e o iTunes mudou o relacionamento das pessoas com a música e sua venda digital; com o iPhone estabeleceu um novo patamar de telefones inteligentes; o iPad, por fim, revolucionou ao apresentar o tablet como um novo nicho no mercado de tecnologia e informação.
Mas o leitor está enganado se acredita que acaba por aqui. Jobs também foi responsável pela maior revolução na história da animação no cinema. O que conhecemos hoje como o estúdio Pixar Animation Studios já foi um dia apenas uma divisão de computação gráfica da LucasFilms. Foi em 1986, logo após ter sido despedido da Apple, que Jobs gastou 5 milhões de dólares para comprar essa divisão de George Lucas. Depois de adquirir a empresa, mais 5 milhões foram gastos para que ela continuasse operando. É importante apontar que junto com a Graphics Group of LucasFilms Computer Division vieram todos os funcionários, incluindo John Lasseter, o verdadeiro gênio por trás das histórias e atualmente o chefe da área de animação da Disney. Após a mudança de nome para Pixar, Lasseter e Ed Catmull apresentaram para Jobs a ousada proposta de abandonar a animação 2D e fazer longas-metragens somente em animação computadorizada 3D. Na década de 80 essa proposta era tão absurda quanto já foi a viagem à Lua. Entretanto, Jobs apostou em Lasseter e Catmull.
O primeiro curta-metragem animado pelo revolucionário processo chamava-se Luxo Jr. e contava a história do abajurzinho que nós conhecemos hoje como o símbolo do estúdio. Mas foram necessários quase dez anos para que o dinheiro que Jobs investiu do próprio bolso gerasse algum resultado. Uma parceria entre Pixar e Disney em 1995 lançou nos cinemas o primeiro longa-metragem completamente feito e animado no computador. Contava a história de brinquedos que ganhavam vida quando não havia ninguém os olhando — o filme era Toy Story. O sucesso do filme foi tão enorme e absoluto que a Disney encomendou mais três longas, permitindo assim a criação de Vida de Inseto (A Bug’s Life, 1998), Toy Story 2 (1999) e Monstros S.A. (Monsters, Inc., 2001).
Desde a primeira parceria com a Disney há 18 anos, Pixar lançou 14 filmes nos cinemas — uma quantia até pequena comparada a outros estúdios. Entretanto, os filmes já somam 11 estatuetas da Academia e mais de 200 outros prêmios, além de renderem em média 600 milhões de dólares — valor muito acima da média de Hollywood. Esse sucesso vem diretamente de homens como Steve Jobs e John Lasseter, que trocam sistematicamente a quantidade pela qualidade. Prova irrefutável da qualidade imputada por Jobs na Pixar foi sua venda para a Disney em 2006 pela extravagante soma de 7,4 bilhões de dólares — mais de 1000% de valorização sobre o valor pago pela empresa.
Steve Jobs deixou sua marca na história da animação no cinema, contribuiu diretamente para a criação do maior estúdio de animação da atualidade e revolucionou a visão sobre tecnologia, informação e mercado diversas vezes, tudo com uma visão simples e clara sobre seguir seu coração e trabalhar para fazer apenas o melhor, o excelente.
A lista dos filmes da Pixar para aqueles que ainda não os conhecem e para quem se interessar pela história da empresa, recomendo o pequeno documentário The Pixar Story (2007).
- Toy Story (1995)
- Vida de Inseto (A Bug’s Life, 1998)
- Toy Story 2 (1999)
- Monstros S.A. (Monsters, Inc., 2001)
- Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003)
- Os Incríveis (The Incredibles, 2004)
- Carros (Cars, 2006)
- Ratatouille (2007)
- WALL-E (2008)
- Up (Altas Aventuras, 2009)
- Toy Story 3 (2010)
- Carros 2 (Cars 2, 2011)
- Valente (Brave, 2012)
- Universidade Monstros (Monsters University, 2013)