“Bingo: O Rei das manhãs”

Pedro Cotta
CineOpinativo
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2 min readSep 7, 2017

Mais uma pérola do cinema nacional.

Plena segunda-feira, multiplex, já esperava uma sala vazia, ainda mais se tratando de um filme brasileiro (aquele preconceito ridículo das pessoas). Quebrei a cara, estava quase toda cheia — menos aqueles maravilhosos lugares nas primeiras filas. Como sempre, atraio gente chata e o cara do lado transcreveu o filme inteiro para sua acompanhante (não-cega), tentando também adivinhar todos os acontecimentos do filme (“iii ó, agora ele vai encontrar com ela…ó só… AH LÁ, NÃO FALEI!”).

Sempre tive um certo medo de palhaços. São criaturas ambíguas: seu propósito é trazer diversão, mas precisava ter uma maquiagem tão assustadora? Não por acaso, temos muitos filmes e vídeos onde eles aterrorizam e matam as pessoas. Para garantir, mantenho certa distância. No caso de “Bingo: O Rei das manhãs” indico proximidade, na sala mais perto da sua casa.

imagem retirada de www.metropoles.com

Arlindo Barreto era casado e tinha um filho pequeno. Era um ambicioso ator de pornochanchadas buscando oportunidades mais desafiadoras, tendo sua mãe como exemplo na área, uma atriz que caiu no esquecimento depois de um sucesso estrondoso na televisão. Tal mãe, tal filho.

Desbocado, direto, alegre e irreverente, Arlindo buscava formas de crescer profissionalmente. Tentou na Globo (já na década de 80 a maior rede televisiva brasileira), mas no SBT foi onde surgiu, sem querer, a oportunidade de sua vida: interpretar o palhaço Bingo, personagem norte-americano com mais de 10 anos de sucesso por lá. Mas Estados Unidos é uma coisa, Brasil é outra.

O filme é rápido, intenso e louco, sem quase nenhum segundo de respiro. Um dos grandes responsáveis por isso é Daniel Rezende, diretor deste e o responsável pela montagem de “Cidade de Deus”, um thriller igualmente frenético. Mas além de uma história que nasceu para virar cinema nas mãos de um diretor competente, esse ritmo deve muito também ao seu elenco. A certinha produtora Leandra Leal, a mãe zelosa Tainá Müller, a rebolativa Emanuelle Araújo (Gretchen, único personagem com o nome real), Domingos Montagner (em seu último papel no cinema) e Vladimir Brichta, no papel de sua vida. Ele interpreta um personagem complexo, que passeia entre a alegria profissional, o frenesi das drogas e a depressão pós-pó, com uma entrega e competência incríveis!

imagem retirada de www.planoextra.com

Com sua fotografia granulada e pouco saturada, que ajuda a retratar fielmente a época, “Bingo: O Rei das manhãs” é um espetáculo. Direção, atuações, trilha-sonora, tudo perfeitamente alinhado para que o espectador fique por quase 2h preso na cadeira. E querendo bis.

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Pedro Cotta
CineOpinativo

Apaixonado por “2001” e “Superbad”, coxinha e risoto de camarão, Beatles e Beyoncé.