Fora do Radar: In Your Eyes

Ana Döring
CineOpinativo
Published in
3 min readJun 28, 2017

O cenário independente é um muito complicado, desde a concepção de um roteiro até a último arquivo a ser renderizado na sala de edição. Mas, ainda que tenha inúmeros obstáculos, é um lugar onde existe uma abertura para arriscar (afinal, tudo se torna um risco) que grandes estúdios dificilmente poderiam se dar ao luxo. Quando não há milhões que precisam ser pagos em salas 3D, nem se tem outros milhões de pessoas prontas para analisar cada frame de seu filme, talvez exista mesmo algo pelo menos parecido com liberdade. É aqui que entra Joss Whedon, diretor de Os Vingadores e parte essencial dos estúdios Marvel.

Embora eu tenha desenvolvido um carinho enorme pelo Universo Cinematográfico da Marvel, pareceu uma ótima ideia mudar o foco para um pequeno filme escrito por Whedon, lançado no início desse ano, mas que nem chegou às salas de cinema. Sob a direção de Brin Hill e feito pelo estúdio Bellwether Pictures, no qual Whedon é o co-fundador, In Your Eyes foi filmado em alguns poucos meses, em formato digital, com uma câmera Arri Alexa.

O roteiro começou a ser escrito nos anos 90, e tem uma premissa tão simples quanto estranha: uma mulher e um homem que vivem em lugares distantes e que nunca se conheceram, descobrem que podem sentir e ver a mesma coisa que o outro. É o tipo de história que pode fazer com o espetador pare, pense e decida que, tudo bem, parece interessante o suficiente para despertar sua curiosidade. Com Zoe Kazan e Michael Stahl-David nos papéis principais, como Rebecca e Dylan, o filme se desenrola de uma forma muito sutil e surpreendentemente despretenciosa. A história é sensível o suficiente para que seu elemento paranormal seja aceito e compreendido na realidade do filme com muita naturalidade e rapidez, abrindo caminho para que seja possível se preocupar com as interações do casal, suas histórias individuais e as pessoas que os cercam.

Os problemas do filme, claro, existem, e estão em sua maior parte na falta de personalidade que seus personagens secundários têm. Todos eles fazem mais ou menos tudo aquilo que seu estereótipo aponta que fariam, e seria bom ver situações que os moldassem apenas em uma parcela do que acontece com Rebecca e Dylan. Ainda assim, a história consegue atravessar esses pontos, beneficiada pela decisão de não tentar demais. A atriz Zoe Kazan comenta o filme como um “Joss Whedon encontra Nicholas Sparks”, e é uma boa de definição porque o filme é um romance, ponto. É engraçado como, hoje em dia, isso tornou-se uma decisão um pouco arriscada também. Mas é um formato interessante do gênero, então porque não?

Lançado em abril de 2014 no Festival de Tribeca, foi lançado para alugar no streaming logo depois de sua exibição no festival, em um movimento inovador onde as salas de cinema nunca estiveram em cena. Tanto quanto seus personagens, In Your Eyes jogou com possibilidades de um mundo um pouco diferente. E o cinema é realmente um ótimo lugar para possibilidades.

Você pode ver o trailer do filme abaixo:

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Ana Döring
CineOpinativo

Designer, apaixonada por filmes, histórias, pessoas e toda forma de arte. Escreve sobre tudo isso e mais um pouco.