Cowboy Bebop (1998) — 1 Temp.

O que ficou para trás ainda importa

João Neto
Cineratus
3 min readJun 2, 2021

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Existem dois pontos que fazem de Cowboy Bebop instigante: o improviso que permeia cada uma das situações e resoluções de seus episódios, assim como a melancolia que persegue seus personagens, tomando a forma do passado mal resolvido do grupo. Curiosamente essas duas características refletem a essência do jazz, gênero musical homenageado desde o título até o nome dos episódios, também presente na trilha sonora inebriante. Como resultado, temos uma certa sofisticação desses elementos combinados, que dão forma a uma jornada de fuga e encontro com vidas pregressas que não estão tão distantes quanto se acredita.

A trama se passa no ano de 2071, com a humanidade já tendo colonizado vários planetas e luas do sistema solar, abandonando a agora inabitável superfície do planeta Terra. A força policial tenta manter a paz na galáxia, auxiliada em parte por caçadores de recompensas fora da lei, conhecidos como “Cowboys”. A equipe desorganizada a bordo da espaçonave Bebop são dois desses indivíduos.

O calmo e despreocupado Spike Spiegel e seu parceiro turbulento e pragmático, Jet Black. Tirados do curso de suas vidas pelo acréscimo de novos membros que conheceram em suas viagens — Ein, um Welsh Corgi geneticamente modificado e altamente inteligente; femme fatale Faye Valentine, uma trapaceira enigmática com perda de memória; e o estranho garoto gênio da computação Edward Wong — a equipe embarca em aventuras emocionantes que desvendam o passado sombrio e misterioso de cada membro aos poucos.

Por fim, cada um deles lida de uma maneira com essas lacunas, tentando tomar distância delas ou as perseguindo, mesmo quando tudo aponta para um enorme “siga em frente e enterre seu passado”. Mas é compreensível, sem a resolução dos ciclos interrompidos, a existência de cada um deles parece injustificada, é a partir do passado que o presente se define. Então, mesmo diante do fim adverso que se anuncia, ir em direção a sua vida pregressa, por mais ilógico que possa parecer, é fundamentalmente justo com sua condição de humano, condicionado a buscar certa completude que, muitas vezes, só pode ser encontrada naquilo que é nocivo.

Por fim, cada um deles lida de uma maneira com essas lacunas, tentando tomar distância delas ou as perseguindo, mesmo quando tudo aponta para um enorme “siga em frente e enterre seu passado”. Mas é compreensível, sem a resolução dos ciclos interrompidos, a existência de cada um deles parece injustificada, é a partir do passado que o presente se define. Então, mesmo diante do fim adverso que se anuncia, ir em direção a sua vida pregressa, por mais ilógico que possa parecer, é fundamentalmente justo com sua condição de humano, condicionado a buscar certa completude que, muitas vezes, só pode ser encontrada naquilo que é nocivo.

Cowboy Bebop é um dos grandes animes de sua geração, o que acaba refletindo em continuar relevante mesmo quase 30 anos depois de seu lançamento. Watanabe fez aqui um trabalho atemporal, que comove por soar tão humanamente solitário em sua própria existência.

See you in space, cowboy…

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João Neto
Cineratus

Formado em jornalismo, amante de cinema, mestrando em Comunicação Social.