Cobertura: 7ª Mostra Lugar de Mulher é no Cinema
Nos últimos anos, temos proclamado com razão que “lugar de mulher é onde ela quiser”. Também nos últimos anos, temos visto a valorização da mulher que decidiu que seu lugar é atrás das câmeras, contando histórias para quem quiser vê-las e ouvi-las. E assim surgiram iniciativas diversas para destacar a mulher que faz cinema, e dentre estas hoje destacamos a sétima edição da Mostra Lugar de Mulher é no Cinema.
Coincidindo com a celebração do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, a mostra soteropolitana de curtas-metragens feitos por mulheres e pessoas não-binárias chega à sua sétima edição com programação presencial em Salvador e também oficinas online. A mostra homenageia a diretora e produtora Sol Moraes, que comemora seus 35 anos de carreira.
A seguir acompanhe uma amostra dos filmes exibidos, com dicas de programação imperdível.
Mostra Matinê
Em “Ana e as Montanhas”, é em um funeral estilizado que a menina Ana (Ana Cecília Torres) precisa não apenas elaborar o luto pela perda de uma de suas mães, mas também enfrentar a grande e tenebrosa questão que mobiliza os adultos ao redor dela: com quem Ana vai ficar? Com imaginação e reminiscências, ela encontra a resposta.
A animação em stop-motion “A Menina Corina” traz a garota do título, que costuma sonhar acordada enquanto se balança num galho de árvore, sendo apresentada ao vasto mundo por uma professora. Depois de crescida, ela vai em busca deste mundo, que de início parece assustador, mas logo se revela um local para trabalhar e cultivar amizades… e tão vasto quanto o quintal de Corina. O destaque vai para a falta de diálogos, que torna a narrativa universal e o curta passível de ser visto e compreendido em qualquer lugar deste mundão.
Na mostra não há somente espaço para filmes cujo público-alvo são as crianças: tem também espaço para filmes feitos por crianças! Este é o caso do singelo “A Escola das Diferenças”, dirigido e roteirizado por Tina Xavier da UFMS, com a ajuda de alunos do quarto ano de uma escola de Campo Grande. No curta, uma menina chamada Alice é proibida de jogar futebol e, na busca pelo seu direito de igualdade, aprende com seus amigos como combater preconceitos e a importância de levar o Ubuntu como lema.
Dialogando com “A Escola das Diferenças” temos o alagoano “Impedimento”. Nele, são colhidos depoimentos de jogadoras, árbitras, torcedoras e jornalistas que cobrem a Copa do Nordeste. Elas nos contam como surgiu a paixão pelo futebol e todas as contradições que provêm do amor por um esporte que ainda é tão cercado pelo machismo.
Curta imperdível: A Menina Corina
Mostra Raízes
O tom ensaístico de muita sabedoria popular impera em “O Tempo das Coisas”. Ao longo de 21 minutos, se versa sobre vésperas, a importância da agricultura em geral e de conversar com as plantas, amores e vivências. Há espaço para a incomparável experiência de ver o sol nascer na roça e também para a melancolia da entrevistada cujos filhos estão morando em São Paulo. Um filme de contradições, como a própria vida.
Versando sobre muitos temas dentro da educação, “Caminhos Abertos” entrevista quatro universitários no final de cursos diversos da graduação em universidades públicas. Nas conversas, surgem discussões sobre as diferenças entre ensino básico público e privado, representatividade não apenas entre os alunos, mas entre os professores das universidades, como é preciso se deslocar para chegar até a sala de aula, apoio moral da família e dos amigos e como transformar a faculdade em algo mais acolhedor. Sendo o próprio curta uma empreitada de universitários, as questões levantadas são de suma importância para se pensar a universidade que temos e aquela que queremos.
“Tramas da Mata” tem como tema o artesanato com piaçava. Acompanhamos os atos de colher, escaldar, secar, tingir, riscar e trançar a palha. A beleza é explorada não apenas na miríade de produtos feitos com a palha, mas com a tradição que infelizmente está se perdendo: passada de mãe para filha e extremamente recompensadora, trançar piaçava gera renda e alegria.
Curta imperdível: O Tempo das Coisas
Mostra Luas
Um filme intitulado “Mãe” — o que lhe garante muitos homônimos, de várias épocas e lugares — tem como protagonista um garoto chamado Luís cuja mãe fervorosa de dia lhe dá queijos de cabra para vender na estrada e de noite leva homens para um barracão e os faz desaparecer. Um verdadeiro terror tupiniquim, o filme mostra de maneira bem didática como o fanatismo religioso e a crença cega em algo podem ser terríveis.
Entre a praia e a comunidade, temos desenvolvida a narrativa de “A Faísca”. Somos apresentados às amigas Nancy e Thayla: na praia Nancy experimenta racismo velado e ouve sobre sonhos de cantar samba, enquanto em seu salão de beleza Thayla discute sobre boys lixo. Permeado de sororidade, este curta baiano tem personagens tão cativantes que nos faz desejar que ele fosse um longa-metragem.
Já o curta universitário “Cida Tem Duas Sílabas” traz uma avó que tem sua vida mudada e adquire consciência trabalhista quando precisa fazer hora extra no ateliê de costura onde trabalha. Ela pede que a neta Naiara fique com a professora Eline, que ensina Cida a ler.
Curta imperdível: se puder, veja todos os três.
A Mostra Lugar de Mulher é no Cinema vai de 24 a 28 de julho e você pode acompanhar a programação no site.