Marlene Dietrich, a Vênus Loira

Rafaella Britto
Cine Suffragette
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4 min readAug 7, 2017

Este é um guest post escrito por Letícia Mubárack e originalmente publicado no site Império Retrô

Marlene Dietrich foi uma das mais famosas representantes da Era de Ouro de Hollywood. Seu período de maior destaque no cinema foi durante as décadas de 1930 e 1940. Foi também uma mulher corajosa e uma importante figura política: alemã, em plena Segunda Guerra Mundial, declarou ser contra o nazismo e apoiou as tropas aliadas. Ousada, foi uma das primeiras mulheres a aparecer em público vestindo calças, tornando-se um ícone eterno de moda e estilo.

1933: Dietrich caminha por Hollywood vestindo calças (Foto: Fashion Gone Rogue/Reprodução)

Nascida em Berlim, em 1901, Marlene Dietrich iniciou a carreira de atriz aos 20 anos. Participou de produções de pouca visibilidade e trabalhou como cantora, até fazer o filme que seria o seu primeiro grande sucesso, e pelo qual tornou-se mundialmente conhecida: “O Anjo Azul” (Josef von Sternberg, 1930). A interpretação de Lola Lola, uma cantora de cabaré que leva a vida de um professor à ruína, abriu-lhe as portas para Hollywood. A famosa cena na qual canta “Falling in Love”, exibindo suas longas pernas, é lembrada como uma das mais antológicas do cinema.

Marlene Dietrich na famosa cena de “O Anjo Azul”, 1930 (Foto: Reprodução)

A parceria com Sternberg (que também era seu amante) resultou em 7 filmes. O primeiro da dupla em Hollywood foi “Marrocos” (1930), em que contracena com Gary Cooper, e pelo qual recebeu sua única indicação ao Oscar.

A androgenia de Dietrich em “Marrocos”, 1930 (Foto: Reprodução)

Seguiram-se outros sucessos como “‘Expresso de Xangai” (1932) e “A Venus Loira” (1932). Neste último, Helen (Dietrich) tem de trabalhar em um cabaré para pagar o tratamento médico do marido. Lá conhece um milionário (Cary Grant) e se apaixona por ele. Em muitos de seus filmes, Dietrich utiliza sua bela voz em números musicais que transbordam sensualidade, e nesse filme não foi diferente: ao cantar “Hot Vodoo”, a atriz evoca o caráter místico de seus encantos.

Bissexual, Marlene atraía a atenção de homens e mulheres. Ao longo da carreira, moldou a imagem da deusa sedutora e andrógina, valendo-se de uma sexualidade agressiva e atitude dominante: suas personagens não conhecem limites quando se apaixonam. Pegando emprestado peças do guarda-roupa masculino, em diversas ocasiões vestiu terno e cartola. Também sentia-se à vontade trajando glamorosos vestidos. Sempre exigente com sua aparência, utilizava o figurino como uma arma para conquistar tanto o parceiro do filme como o espectador.

(Foto: Reprodução)

“The Devil is a Woman” (1935) marca o fim da parceria com Sternberg e Marlene parte para uma carreira de sucesso com outros diretores de Hollywood, realizando filmes como “O Jardim de Alá” (1936), “O Anjo” (1937), “Cidade Turbulenta” (1939) e “Manpower” (1941).

(Foto: Reprodução)

Em 1933, Hitler a convida para estrelar filmes pró-nazismo. Ela recusa e, em 1937, torna-se cidadã norte-americana. Descontente com o nazismo, durante a Segunda Guerra se dedica a ajudar as tropas aliadas, visitando hospitais do front e entretendo soldados com shows especiais. Chegou a ser condecorada com medalhas, mas foi considerada uma traidora em seu país de origem.

Em 1961, Dietrich estrela o filme antifascista “O Julgamento de Nuremberg”. No ano de 1975, deixa os palcos. Seu último trabalho no cinema foi em “Apenas um Gigolô”, filme de 1978, estrelado por David Bowie. Vaidosa, não se deixou ser filmada ou fotografada em idade avançada, e viveu reclusa na França até sua morte, em 1992. Apesar do ressentimento, foi enterrada em Berlim.
Seu legado permanece: Dietrich é um ícone do cinema e evoca ousadia, sensualidade e mistério. Ditou moda e até hoje é referência para cantoras e atrizes.

Segundo o biógrafo Werner Sudendorf: “Existe um fascínio por Marlene Dietrich porque ela sempre polarizou as pessoas e sempre foi capaz de fazer provocações. Ela sempre será um ícone do século 20. Ela lançava moda, era corajosa. Marlene era uma atriz, uma cantora e uma heroína política relutante. Ela era um microcosmo da história germano-americana no século passado.”

Originally published at www.imperioretro.com.

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Rafaella Britto
Cine Suffragette

São Paulo-based writer, poet, teacher, translator and researcher. Lover of classic films, music, traveling and all things vintage.