Por que Petra Solano é uma das mais importantes vozes LGBT na TV atualmente
Este é um guest post escrito por Tina Kakadelis.
Este artigo tem pequenos spoilers da quarta temporada de Jane the Virgin.
Eu tenho uma relação complicada com Jane the Virgin. Eu comecei a ver a série com atraso, só depois que uma amiga insistiu para que eu assistisse. Depois de alguns episódios, eu me tornei a pessoa que ficava insistindo com outras pessoas para que dessem uma chance à série. A primeira temporada foi cheia de diversão e breguice, de modo que foi fácil ficar viciada na série. Ela entende seu lugar como uma telenovela autoconsciente e autocrítica e, no começo, equilibrava estas funções perfeitamente. Recentemente, entretanto, a série se aproximou demais do gênero telenovela no que diz respeito à vida amorosa de Jane. Ela se tornou o homem que ela namorava e a série perdeu um pouco de seu charme.
No entanto, Petra Solano é uma ótima razão para ainda ver a série de tempos em tempos.
No decorrer da série, Petra passou por maus bocados. Ela teve dois maridos e deu à luz gêmeas. Ela também viu uma irmã gêmea distante voltar a fazer parte de sua vida, e sua mãe tentou matá-la várias vezes. Petra não é exatamente a pessoa mais equilibrada, mas quando sua própria mãe tenta te acusar de homicídio, eu imagino que surja algum trauma.
O que torna Petra tão interessante é uma camada emotiva que levou algum tempo para ser desvendada. Enquanto alguns dos personagens na série permaneceram os mesmos, é possível ver o desenvolvimento de Petra. Jane Villanueva foi de inimiga de Petra a parte da família, e isto é apenas um pequeno exemplo de como ela cresceu na série.
Petra passou a vida toda ouvindo que dinheiro e status eram as coisas mais importantes do mundo, por isso suas metas sempre envolveram a aquisição destas coisas. Ela nunca conseguiu aquela família perfeita, de comercial de margarina. A principal razão pela qual ela recebe de braços abertos sua irmã gêmea perdida e a deixa entrar em sua vida é porque esta é sua primeira experiência com uma família. No final das contas, esta é a trama principal para Petra. Ela quer amor e quer ser amada, mas ela não faz ideia do que é sentir-se amada. Ela acha que o amor vem com dinheiro e status, por isso ela rompe o relacionamento e volta com Rafael tantas vezes. Por razões óbvias, as coisas com Rafael não funcionam. A maior parte do seu relacionamento com Rafael envolvia Petra obedecendo à mãe e fazendo o que a mãe mandava, porque ela achava que era o melhor. Ela queria Rafael pelo que ele era capaz de lhe prover, financeiramente, não pelo que ele era.
Ah, e ela também é bissexual.
Eu acho interessante que, quando Petra mostrou seus sentimentos, isso foi um choque para muitos heterossexuais. Meus amigos e eu estávamos conversando sobre o desenvolvimento de Petra e eu disse algo como “já era hora”. Todos queriam saber o que eu queria dizer com isso. Eu tive de perceber que o caminho que eu considerava tão claro sequer havia passado pela cabeça de tantas pessoas.
A maneira como Petra nunca parecia preocupada com Rafael foi o que me levou a esta conclusão. Ela nunca se importou com Rafael como alguém se importa com um parceiro. Ao contrário: ela o via como um passo necessário em seu plano de negócios. Não havia sequer um pingo de doçura na relação deles. Em um episódio recente, a própria Petra disse que ela nunca havia sentido nada parecido com o que ela sente por Jane. Ela não está se referindo à Jane Villanueva, mas a uma nova Jane, chamada Jane Ramos e apelidada de J.R. para não haver confusão. Petra nunca havia se preocupado com mensagens de texto ou com o que vestir ou como ser casual. Ela nunca soube o que é aquela paixão adolescente porque, e eu vou arriscar um palpite aqui, sentir atração por mulheres nunca foi algo apresentado como uma opção para ela quando ela era mais nova.
Uma das principais razões pela qual Jane the Virgin deu este arco para Petra foi porque muitos telespectadores viram a personagem da mesma maneira que eu: como uma mulher que está em algum lugar no espectro LGBT. Em vez de rir da cara dos telespectadores, os criadores fizeram isso acontecer. OK, muitos telespectadores queriam ver um romance entre Petra e Jane Villanueva, mas ao batizar o interesse amoroso de Petra de Jane, os criadores disseram “nós ouvimos vocês, nós vemos vocês, e nós respeitamos vocês”. Mais programas de TV deveriam ser assim, em vez de defender agressivamente a heterossexualidade de seus personagens.
Petra tem a chance de ter esta história de amor adorável e dulcíssima com Jane Ramos (J.R.) e eu adoro como o fato de que ela está vivendo isso como uma mulher não é tratado como um problema. Jane e Rafael estão mais surpresos com o fato de que Petra deu uma risadinha ao ler uma mensagem de texto do que com o fato de que a pessoa que mandou a mensagem é uma mulher. Eles ficam chocados quando veem uma versão alegre e completamente apaixonada de Petra.
E isso é algo lindo de se ver.
Pelo menos uma vez, a história não tem nada a ver com sair do armário. Tem a ver com ser acusada de assassinato e J.R. ajudar Petra a se livrar da acusação. A história tem a ver com conhecer Petra e descobrir quem ela é por trás daquela máscara que ela criou e usou durante a maior parte da sua vida. A história tem a ver com uma mulher que está confortável em sua própria pele e é amada por quem ela realmente é, pela primeira vez na vida. Mesmo com todos os seus defeitos.
Eu não sei qual rumo Jane the Virgin planeja tomar com esta história, e eu rezo para que Rosario Dawson (J.R.) continue na série. Eu não sei se veremos Petra começando seu processo de sair do armário, mas não sei se precisamos disso. Mesmo assim, eu AMARIA ver Petra Solano em uma parada do orgulho LGBT. Eu penso que tudo de que precisamos saber é que J.R. faz Petra feliz. Estamos na quarta temporada, já era hora de vermos Petra feliz.
