Sobre o Oscar, os abusadores e o machismo do dia a dia

Letícia Magalhães
Cine Suffragette
Published in
3 min readMar 12, 2018

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Este é um guest post da Letícia Acioli.

Muita gente tem muita coisa a dizer sobre o caso do Gary Oldman, e eu já disse várias, mas vou dizer mais.

Em 2001, a ex-esposa do ator, Donya Fiorentino, o acusou de agressão física e abuso emocional. Ela tinha problemas com drogas, e o juiz do caso afirmou muito grosseiramente e de forma bem machista que ela estava mentindo e encerrou o caso, dando custódia dos dois filhos deles pro Oldman.

Depois da vitória do ator no Oscar, ela voltou a se pronunciar, perguntando o que tinha acontecido ao movimento #MeToo, já que estavam ainda premiando abusadores.

O filho do casal, Gulliver, agora com 20 anos, fez uma carta defendendo o pai e dizendo que sua mãe sempre foi emocionalmente perturbada e insistia nessas mentiras para difamar o caráter de Gary.

Esses são os fatos. Agora vamos ao ponto de vista.

Eu estudo o comportamento social e o impacto que ações humanas têm nas pessoas, e o que a sociedade contribui para que a humanidade avance ou retroceda. Estou muito longe de ser especialista em qualquer coisa, e já fui chamada de “milituda”, exagerada, “mimizenta” e tantas outras palavras carinhosas por defender vítimas. E vocês podem discordar de mim, e dizer que foi “provado no tribunal” que ela estava mentindo e que isso é uma caça às bruxas.

Mas apenas observem seus próprios comportamentos. Por que é tão fácil criticarmos o sistema judicial quando se trata dos negros e tão impossível quando estamos falando de mulheres? Juízes brancos são por muitas vezes racistas, todos sabemos, é como a sociedade foi construída. Então por que quando o assunto é MACHISMO, a justiça de repente é tão maravilhosa?

E por que vocês se sentem tão mais inclinados a acreditar na palavra de uma pessoa que na época dos acontecimentos tinha TRÊS anos de idade do que na vítima, que dezessete anos depois, continua afirmando que isso aconteceu?

Socialmente, Casey Affleck e Gary Oldman vencerem Oscars seguidos só continua provando como Hollywood é seletiva em quem vai punir. Harvey Weinstein, Kevin Spacey e James Franco se afundaram, mas por que os outros não? Casey foi um caso resolvido “fora do tribunal”, então parou de ter acontecido? “Ele pagou”. É, em dinheiro. Mas ainda tem um Oscar em sua prateleira.

Já Gary, realmente, é questão de consciência. Ele deu vida ao meu personagem favorito de Harry Potter e eu o adorava como ator e como pessoa. Hoje, eu escolhi acreditar na vítima. Mas antes de vocês saírem rindo e chamando quem também acredita na vítima de “milituda” e dizendo que só queremos jogar todos os homens na fogueira sem olharmos os fatos, pensem um pouco. Pensem sobre o machismo da indústria, o machismo da vida, e como vai ser sempre tão difícil provar qualquer caso se vocês continuarem achando a visão de uma criança de três anos mais crível do que da mulher que diz que apanhou.

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