Arábia, 2018

Felipe
cinetorio
Published in
3 min readSep 20, 2018

A composição desse texto traz informações sobre seu enredo, não leia se não tiver assistido.

★★★★★★★★★

Informações técnicas

Título Original: Arábia
Ano de Lançamento: 2018
Direção: Affonso Uchoa e João Dumans
País de Produção: Brasil
Idioma: Português
Duração: 96 min

Sinopse

Em uma fábrica de alumínio em MG, um jovem encontra o diário de um trabalhador que sofreu um acidente. Através da história, o filme faz um panorama das condições de vida de indivíduos marginalizados.

Um dos melhores filmes nacionais desse ano saiu das mãos do meteórico Affonso Uchoa em parceria com João Dumans. Arábia é um filme que trata da solidão e da dificuldade de seguir em frente, não apenas de seguir, mas de sobreviver para poder continuar. No começo, ele flerta com trabalhar a temática batida que é o adolescente comum, que percorre os caminhos em sua bicicleta com uma trilha sonora em inglês, fugindo das coisas.

Entretanto, esse início serve apenas como prólogo para a história que de fato importa. Foi um caminho bem pavimentado para podermos conhecer a história de Cristiano, trabalhador errante que busca colocar sua vida nos eixos depois de passar um período de tempo na prisão. Por meio da leitura do diário e de uma narração em off, que normalmente considero problemática, mas foi bem encaixada na produção.

O desenvolvimento narrativo é um dos elementos mais primorosos do filme, posto que Cristiano começou o diário sem saber o que escrever, mas no decorrer da história, percebemos uma maior afinidade com as palavras e com as histórias que conta, se posicionando cada vez mais enquanto sujeito. Ainda assim, parece que os diálogos ainda estão permeados por uma certa incomunicabilidade; as personagens conversam, mas as interações parecem ser consigo próprias, cercadas de nostalgia e reflexões.

Além disso, todos os trabalhos feitos são cercados por uma insegurança. Não se sabe até quando vão conseguir seguir trabalhando, mostrando a dificuldade enfrentada pelas pessoas em profissões e relações de trabalhos precarizadas. Algo que vai desde a cena em que conversa com o patrão na colheita de mexericas, até o momento em que seu amigo, Cascão, é demitido de maneira repentina.

Até as cenas que envolvem o relacionamento do protagonista com a Ana, que em tese são as mais importantes para ele, são curtas e mal desenvolvidas. Alguns comentários críticos apontam como uma falha do filme, mas interpreto esse momento como um dos mais bem desenvolvidos. Há uma sutileza na maneira como é retratado, ainda mais se considerarmos que tudo que nos é mostrado a partir do que foi escrito por Cristiano. Como colocar em palavras um relacionamento tão importante, ainda mais quando ele é atravessado por um aborto? Parece ser um plot rápido, mas não há como desconsiderar a tristeza de escrever sobre um amor que ainda vive, mas não se sustenta.

Por fim, é importante ressaltar que é um ótimo filme. Além de sua grande qualidade cinematográfica, assume um importante papel histórico no ataque conservador aos direitos dos trabalhadores. Dar voz ao operário e trabalhador errante, à aquele que é marginalizado pela sociedade, foi uma sacada muito inteligente e parece ser a tônica do cinema de Uchoa.

--

--

Felipe
cinetorio

what do you mean you forgot the chicken nuggets