Comeback: Um Matador Nunca Se Aposenta, 2016

Felipe
cinetorio
Published in
3 min readJul 25, 2018

A composição desse texto traz informações sobre seu enredo, não leia se não tiver assistido.

★★★★★★★✩✩✩

Informações técnicas

Título Original: Comeback: Um Matador Nunca Se Aposenta
Ano de Lançamento: 2016
Direção: Erico Rassi
País de Produção: Brasil
Idioma: Português
Duração: 87 min

Sinopse

Aposentado da carreira de pistoleiro, Amador leva uma vida distante dos momentos de perigo e de temor que provocava. Certo dia, é procurado pelo neto de um amigo, que deseja trabalhar com ele por sua fama.

Comeback — Um Matador Nunca se Aposenta”, após a sua estreia, foi marcado por dois eventos temporais diametralmente opostos: enquanto representava a estreia como diretor do goiano Erico Rassi, foi o último filme com a participação do Nelson Xavier, que veio a falecer em maio de 2017. Com essa atuação, inclusive, venceu a categoria “melhor ator” da edição de 2016 do Festival do Rio.

Amador, o personagem vivido por Nelson, é um pistoleiro que já não exerce mais a profissão. O que lhe resta é a saudade dos tempos de glória; era temido, sentimento morreu na medida em que ele envelheceu. Suas vitórias pessoais estão todas guardadas em um livro de recorte, com notícias dos assassinatos que cometeu. Entretanto, não deixou completamente o lado ilícito das atividades; continua na criminalidade, mas fornecendo máquinas caça-níquel aos bares.

Logo no início é possível constatarmos o abandono do poder público ao local em que o filme se passa; não há uma explicitação disso, mas está implícito na execução dos crimes: os próprios personagens desdenham da possibilidade de ocorrer uma fiscalização ou algo do tipo. Sua própria liberdade, em contraponto ao conjunto de suas ações e da fama que parece possuir, é um absurdo.

Há diálogos com uma essência cômica, que de fato chegam a tornar algumas cenas engraçadas. Podemos exemplificar com a discussão de quantos assassinatos são necessários para se considerar uma chacina ou a postura incisiva de uma dupla que visa fazer um documentário sobre o protagonista, querendo que ele arranje metralhadoras para causar maior impacto nas filmagens. Cabe ao gosto do espectador avaliar se foram bem utilizadas ou não, há quem diga que pode ter sido em excesso; têm momentos que parece que o filme todo é feito pautado na incomunicabilidade e/ou inteligibilidade das palavras.

Essa fama tida, ao longo do filme, começa a ser questionada e, em dado momento, sofre um baque a ponto do protagonista admitir ao seu discípulo, que não realizou todos os assassinatos que estão no livro. A partir desse momento ele se empenha e se prende à tentativa de arranjar as metralhadoras emprestadas: uma tentativa de reparação ao seu prestígio para com os outros, mas também para si próprio. Afinal, o filme tem como pano de fundo o envelhecimento, em algum momento chega o dia em que só nos resta as grandes impressões de acontecimentos pequenos.

Em seu olhar vemos um ressentimento enorme, como se o mundo lhe devesse algo. Reconhecimento, talvez? Por isso, o comeback é uma crônica anunciada desde seu título. Até onde Amador vai para essa reparação?

Considerando que o orçamento do filme foi bem baixo, fato afirmado e reafirmado pelo diretor em entrevistas posteriores, o trabalho final é de uma qualidade inegável e vale a sua exibição. Com uma obra de estreia dessas, podemos esperar grandes filmes saindo da mão do diretor Erico Rassi em um futuro próximo.

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Felipe
cinetorio

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