Happy End, 2017

Felipe
cinetorio
Published in
4 min readSep 8, 2018

A composição desse texto traz informações sobre seu enredo, não leia se não tiver assistido.

★★★★★★✩✩✩✩

Informações técnicas

Título Original: Happy End
Ano de Lançamento: 2017
Direção: Michael Haneke
País de Produção: França, Áustria, Alemanha
Idioma: Francês e Inglês
Duração: 107 min

Sinopse

Calais, França. Georges Laurent é o patriarca da família, que está preso em uma cadeira de rodas. Sua filha Anne ainda mora com ele, enquanto que seu filho Thomas acaba de retornar para a casa do pai, junto com a esposa e a filha Eve, cuja mãe faleceu recentemente. Entre eles existe uma intensa incomunicabilidade, que faz com que todos levem a vida segundo seus interesses pessoais.

É difícil avaliar o filme de maneira independente, sem pautar uma análise em cima da prolífera filmografia do diretor austríaco. Se conseguirmos esse distanciamentos, veremos que é uma produção mediana — mas não ruim da maneira como os críticos receberam, apenas decepciona se considerarmos quem o fez.

A família burguesa já foi retratada em filmes seus filmes anteriores, sendo que “Happy End” reproduz um contexto similar ao encontrado em seu primeiro filme, “O Sétimo Continente” (1989). Há uma dificuldade em estabelecer laços interpessoais entre os familiares, culminando em situações de rebeldia extrema contra as normas sociais. Aqui, desde o início, as relações são truncadas e ninguém de fato se comunica.

A cena inicial já nos coloca em um contexto de rotina implementada, através de um vídeo que a filha grava, antecipando todos os movimentos da mãe no processo de se arrumar para dormir, em uma espécie de snapchat. Logo a cena corta para o hamster comendo sua ração e um remédio para hipertensão colocado pela garota, enquanto começa a reclamar sobre a mãe, revelando que fez o mesmo truque do remédio com ela. O hamster morre e a mãe é internada, enquanto ela vai viver com o pai e sua família rica.

Todos ali tem uma vazão. É como em “Teorema(1968), do diretor italiano Paolo Pasolini, em que após a passagem do estranho misterioso pela vida de uma família burguesa, todos os membros da família se encaminham para um destino peculiar, dando vazão ao que estava latente neles obstruído pela rotina aristocrática. Aqui ocorre o mesmo movimento: uma filha que tem como passatempo envenenar as pessoas, um homem que parece ter problema com bebidas, um marido que traí a esposa em mensagens românticas e ao mesmo tempo com conteúdo bdsm, um avô que não quer mais viver e tenta de diversas maneiras o suicídio.

Os momentos de conflito ocorrem à distância e em silêncio, somos meros espectadores da surra que Pierre leva, também só podemos supor o motivo e o conteúdo das falas que Georges diz para o grupo de imigrantes que encontra na rua. É quase como se fossemos convidados a fantasiar os diálogos, supor com base no que o filme foi ao pouco nos mostrando.

O sentimento de culpa pela garota ter feito o que fez com a mãe também é algo que só vemos pelas beiradas. Quase de maneira displicente somos levados a conhecer mais dos conflitos que emergem no filme, sendo que de repente, somos jogados para depois dos acontecimentos, como a cena em que Eve está no hospital com o pai por ter tentado o suicídio.

De certa forma, também podemos ver uma evolução do voyeurismo em sua obra, posto que de certa maneira é uma temática já trabalhada em outros filmes, como em “O Vídeo de Benny” (1992). Aqui, há uma interconexão entre o que é visto com o que é mostrado, há aqui o efeito da globalização e da facilidade de se compartilhar materiais — o que de certa forma também é um contraponto ao filme da década de 90, posto que havia uma certa reserva ao material produzido.

O maior demérito do filme é pular de conflito em conflito, não se aprofundando em nenhum. As discussões são todas muito rasas e em nada se assemelham ao toque cirúrgico que Haneke normalmente coloca em seus filmes, escancarando o cinismo da normalidade que é atribuída a vida social contemporânea. No final das contas, havia mais a ser explorado, afinal, a família, tal qual a obra que geriam, estava prestes a desmoronar.

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Felipe
cinetorio

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