Ex-Pajé, 2018

Felipe
cinetorio
Published in
3 min readDec 9, 2018

A composição desse texto traz informações sobre seu enredo, não leia se não tiver assistido.

★★★★★★★★✩✩

Informações técnicas

Título Original: Ex-Pajé
Ano de Lançamento: 2018
Direção: Luiz Bolognesi
País de Produção: Brasil
Idioma: Tupi, Português
Duração: 81 min

Sinopse

Um poderoso pajé passa a questionar sua fé depois do primeiro contato com brancos que julgam sua religião como demoníaca. No entanto, a missão evangelizadora comandada por pastor intolerante é posta em cheque quando a morte passa a rondar a aldeia e a sensibilidade do índio em relação aos espíritos da floresta mostra-se indispensável.

Logo de cara, temos um vislumbre da relação que a academia traça com os povos e nichos que toma por objeto de estudo: é utilitarista. Não visa auxiliar ou incrementar a vida das pessoas que “lhes forneceram os dados”. Isso é materializado em dois cadernos enormes, em francês, nas mãos dos indígenas. Enviados por um antropólogo que os estudou.

O documentário parece fazer um contraponto a esse aspecto citado acima, tendo em vista que boa parte dos diálogos são realizados em tupi, idioma nativo desses povos; uma forma de dar voz e protagonismo para quem normalmente só serve como cobaia. Assim, podemos compartilhar das incertezas e dos receios que os pilares da manutenção dessas histórias e crenças, frente a sua possível extinção.

Há também o papel do evangelismo na demonização de outras religiões, como as de matrizes africanas, servindo como catalizadora para o etnocídio ocorre dentro das culturas indígenas, que sobrevivem às migalhas em pequenas comunidades, devido a assimilação compulsória do modus operandi da sociedade contemporânea e ocidental. Enquanto, em uma cena, ao fundo o povo cantava “Jesus é Maravilhoso”, em um primeiro plano tínhamos Perpera desfocado, em seguida, varrendo o local do culto. O mesmo homem que foi associado ao demônio pelo pastor evangélico.

Não há apenas o viés religioso atravessando a decadência cultural e social desses povos, mas até comunidades afastadas recebem características de um mundo globalizado e tecnológico; os mais novos ficam ao celular, enquanto os mais velhos preparam materiais de pintura ritualístico, enquanto riem da ausência de interesse dele. No documentário, a maioria das vezes que os mais jovens aparecem, estão munidos de um smartphone.

Também há uma ameaça constante de guerra contra os madeireiros, cercada de um receio acompanhada de incerteza de como proceder frente a essa possibilidade. Afinal, todos nós sabemos que as comunidades indígenas estão desamparadas frente a ineficácia do combate ao desmatamento ilegal e desmonte das políticas públicas e leis de preservação a esses locais. A solução encontrada por ele nessa produção é frágil: tirar foto para denunciar no facebook, é o que está dentro do alcance deles além de tentarem vigiar a floresta.

Por fim, temos um documentário pertinente e muito bem montado. A fotografia, digna dos filmes de Apichatpong Weerasethakul, diretor da cena independente do cinema tailandês, é exuberante e faz um bom contraste às mudanças culturais, deixando de lado uma base coletivista e com fundação no respeito e idolatria a natureza.

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Felipe
cinetorio

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