Um Breve Manifesto Sobre as Coisas Excepcionais

Another tale of two cities

Pedro Gaya
P / G Publications
Published in
3 min readJan 18, 2021

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Diz o ditado oriental: “o prego que se destaca é martelado”. Essa é a frase, com várias variações, dita por aqueles que alertam contra as pressões de fazer coisas diferentes. Mas oras, qual a função do prego? Se a função do prego é ser martelado, por que ter tanto medo do óbvio? E não se trata de se conformar, se trata do prego conseguir cumprir a sua função. Os pregos que não são martelados são inúteis, prontos para enferrujar em alguma caixa de ferramentas esquecida. O prego que se destaca, em termos humanos, é aquele que não tem medo de discordar das vozes da multidão, aquele que não se esconde — apreensivo — quando tem uma resposta indesejada, aquele que é verdadeiro com si — “ser bom é estar em harmonia consigo mesmo […], ser mau é estar em harmonia com os outros”, já dizia Lorde Henry.

Temer esse ditado vulgar é nada mais do que temer a evidência, e temer a evidência é louvar o anonimato, as vidas perdidas na falta de significado. Os romanos bem sabiam que queriam suas vozes ouvidas, e escreveram as suas histórias em suas tumbas para que todo o futuro lesse. Rejeitar a evidência é se curvar à mediocridade. No limite, se submeter à caixa de ferramentas é colocar as tolices humanas na frente do bom, do verdadeiro e do belo. Tenhamos o maior medo não do holofote, mas de quem corre dele — e quer nos puxar para o abismo junto. São aqueles que tomariam uma vala comum como grande virtude. Sim, são verdadeiros adoradores de um abismo, onde desejam cair. Em lugar de ascender à razão, preferem se achar caídos da graça. São aqueles que preferem uma mesmice infernal a qualquer risco para o futuro. São os mesmos que dizem essa frase que se acham no direito verdadeiro de martelar os pregos para que fiquem tortos, tão inúteis quanto os escondidos na caixa, pois não suportam aqueles que não são cópias do seu culto de Hades. Não é graças a eles que o mundo enriqueceu, que a filosofia avançou ou que outras 1001 coisas aconteceram. Essas pessoas não poderiam ser estadistas, filósofos, autores, empreendedores, etc.

Posto isso, o mais importante a ser ressaltado não é o conformismo dessa hoste bárbara. O problema é que a horda é o martelo. São um verdadeiro culto. Um culto da mediocridade. E um culto no sentido mais nefasto. Eles opõem o pensamento crítico e, por consequência, a razão e a filosofia. Eles pressionam todos para a conformidade. Eles tomam tradições cegamente, como máquinas copiadoras. Eles dedicam a maior deferência para a conformidade — e, por consequência, a maior resistência à diferença. Comportamento controlado, informação controlada e até mesmo pensamentos e emoções controlados — ou talvez seja melhor dizer condicionados. São verdadeiros ignorantes, moradores de uma cidade de altas muralhas, e com medo de tudo que não esteja intramuros. São o completo oposto do homem da civilização cosmopolita.

Pegando emprestado a cidade sobre uma colina dos americanos, a cidade dos conformistas é uma cidade em uma depressão, ela fica isolada, longe da visão do mundo. E enquanto a outra cidade brilha como um farol, como um sinal da grandeza da razão humana, para todas as almas penadas diluídas na escuridão; os cultistas preferem que sua cidade pareça mais um poço de escuridão, uma visão de um triste passado de néscias tradições.

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