Design Sprint: o remédio definitivo?

Jeancarlo Cerasoli
CI&T Design
Published in
4 min readDec 20, 2016

É fácil entender o fascínio que o Design Sprint exerce em mercados obcecados pela inovação. Afinal, quem não se encanta com a promessa de ter uma hipótese concebida e validada em até cinco dias?

Sim, o método proposto pelo Google Ventures quase que remete à magia de um RPG com suas regras rígidas (6 horas diárias focadas, sem devices), papéis bem definidos (facilitador, decisor, especialistas…) e até instrumentos próprios (time timer, adesivos de bolinhas e outros). Mas será que o Design Sprint é a lendária “bala de prata”, capaz de solucionar todos os problemas com eficiência proverbial?

Durante a segunda edição do Innovators Summit, realizado em São Paulo pela CI&T, especialista global em soluções digitais, e a +Innovators durante a primeira semana de setembro, a UX designer e Sprint Master do Google Brasil Laura Garcia Barrio apresentou esta abordagem e suas peculiaridades.

Self-driven car by Google: exemplo de projeto concebido através de Design Sprint

De fato, é inegável o impacto de um método que já foi aplicado em dezenas de projetos bem sucedidos como o Loom Project, Self-Driven Car, Android Wear, etc. Mas tais sucessos não surpreendem quem está familiarizado com os resultados dos milhares de projetos baseados numa abordagem que coloca as pessoas no centro de todas as considerações: o Design Centrado no Humano (Human-Centered Design).

A diferenciação estará naqueles produtos e serviços que forem capazes de atender melhor às necessidades humanas, tornando memorável sua experiência de uso

Afinal, num momento histórico em que os recursos tecnológicos para a construção de soluções estão mais disponíveis do que nunca, é certo que a diferenciação estará naqueles produtos e serviços que forem capazes de atender melhor às necessidades humanas, tornando memorável sua experiência de uso.

O foco no ser humano considera as pessoas como ponto de partida e de chegada do processo de construção como um todo, inspirando-se em suas necessidades, ouvindo e identificando-se com suas dores, considerando suas práticas, gerando protótipos de forma colaborativa, testando e validando possíveis alternativas com usuários potenciais da solução.

Trata-se de uma abordagem que vem sendo desenvolvida desde o começo dos anos 70, mas que foi popularizada mundialmente pela IDEO através do Design Thinking, um “empacotamento” do Design Centrado no Humano que enfatiza justamente a construção colaborativa de soluções através de ciclos de convergência e divergência com prototipação rápida.

Para conceber o Design Sprint, o Google Ventures adotou o Design Thinking e procurou adicionar maior objetividade ao processo para atender às necessidades de foco, agilidade e eficiência das startups para as quais presta serviços. E quem resiste à tentação dos cinco dias?

Mas será que o Design Sprint é o remédio definitivo, a grande panacéia que resolve todos os problemas do mundo?

É óbvio que este tipo de solução definitiva não existe, mas o Design Sprint pode ser uma ferramenta poderosa para alinhar expectativas, construir consensos, testar hipóteses e, principalmente, direcionar em um curto espaço de tempo projetos que estejam diante de dúvidas fundamentais.

Porém, não existe almoço grátis.

Quer começar um projeto do zero? Muito provavelmente o Design Sprint não é a ferramenta ideal. Melhor optar por um Design Thinking mais completo, baseado num profundo trabalho de inspiração e entendimento.

Almeja um alinhamento rápido com o time? Uma simples sessão de co-criação de meio período pode ser muito mais produtiva do que um Design Sprint de uma semana.

O fato é que fazer em menos tempo, não significa necessariamente ser mais eficiente. É evidente que conceber em uma semana o que normalmente se levaria um mês para construir significa abrir mão de certos aspectos, como um entendimento mais profundo do contexto de uso, uma jornada do consumidor mais superficial, uma conceituação menos detalhada — afinal, é um teste rápido de conceito.

Por outro lado, o Design Sprint pode ser um instrumento para quebrar a inércia de grandes corporações pouco acostumadas com este tipo de metodologia rápida e centrada nas necessidades das pessoas. Após um trabalho prévio de preparação — levantando as expectativas do negócio, as possibilidades tecnológicas e as necessidades dos consumidores — , é possível construir um poderoso consenso que leve à inovação num período de tempo surpreendentemente pequeno para empresas desta natureza.

Fundamental mesmo é conhecer as diferentes metodologias de trabalho disponíveis no mercado, para ser capaz de identificar qual delas melhor se aplica às necessidades de cada projeto. Seja Design Thinking, Design Sprint, sessão de co-criação ou outra qualquer que venha a ser concebida.

Desculpe a desilusão, mas não existe mágica! É hard work, com Design Sprint ou não.

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Jeancarlo Cerasoli
CI&T Design

: Brazilian UX manager at www.ciandt.com, scifi fan and a lot of other things.