Você agora irá atuar como UX

Marcus Amendola
CI&T Design
Published in
4 min readFeb 18, 2016

Todos nós saímos de outra especialidade antes de nos tornarmos profissionais de UX mas, depois de ter provado do fruto proibido — “como posso tornar esse produto melhor e mais atraente para as pessoas” -, não há mais volta.

A “migração” para UX é a regra, afinal, ainda não existe uma graduação específica para o assunto no Brasil. Por isso, como é esse processo de “transformação”?

Há aproximadamente um ano recebi este desafio: mudar meu escopo de atuação de Front-End Developer para UX/UI designer dentro da empresa.

A indicação veio de outro profissional que já atuava na área de UX da CI&T e identificou em minha atuação pontos que agregariam valor ao time de UX.

Foi uma surpresa pois não conhecia um caso assim na empresa e também porque não tinha solicitado esta alteração — inclusive já havia construído uma reputação e conhecimento na atuação como Front-End.

Outra sensação foi de satisfação, pois com um background na área de Humanas e experiências em projetos particulares — ou em empresas anteriores atuando nas fases de concepção do projeto, mais próximo ao cliente, ao usuário, planejando e criando. Esta era a oportunidade de trabalhar mais estas habilidades e tirar proveito das experiências em projetos maiores, mas contribuindo com marcas mundialmente conhecidas como as que a CI&T atende. Aliás, como desenvolvedor, sentia uma frustração por não ser incluído nas fases iniciais do processo, às vezes, impossibilitado de questionar e sugerir melhorias em tempo hábil.

Mas agora é minha vez… Só que não é tão simples assim.

A integração com o time UX da CI&T foi ótima. Todos os integrantes me receberam de braços abertos e me estimularam a participar dos ritos da área, apresentações, compartilharam materiais, ferramentas, debates, processos etc.

Com toda essa nova informação, ampliei minha visão sobre a atividade de UX. Claro que não achava que sabia tudo, ou que seria fácil por já ter uma bagagem de experiências, mas percebi que conhecia apenas a ponta do iceberg e faltava explorar a fundo esta área. Em 365 dias de atuação como UX/UI, meu foco foi fundamentalmente buscar informações e praticar muito.

Neste ponto, as conversas com meus colegas me fizeram mergulhar nesse mar e enxergar toda a complexidade da parte escondida do iceberg.

  • Métodos para descobrir/entender as necessidades do usuário, necessidades do negócio e solucionar problemas técnológicos.
  • Trabalhos colaborativos com usuários, clientes, gestores, arquitetos de sistemas, envolvendo todos do time que têm alguma participação no ecossistema de um projeto.
  • Uma busca incansável por feedbacks que tragam mais informações e insights para melhorar os produtos. Pesquisa de tendências de design, conhecer novos softwares e muito mais.

Descobri que o UX designer, em seu ciclo de execução, acumula diversas habilidades, tais como as de um pesquisador, empreendedor, negociador, jornalista, apresentador, desenhista etc para poder entregar uma solução — e tudo isso tem que ser feito dentro de um prazo normalmente curto. Dificilmente uma empresa que tem um produto na área de TI consegue reservar 6 meses, 1 ano para estudar uma solução. Esta área é muito dinâmica, necessitando velocidade.

Ambas as atividades (front-end e UX) tem grandes desafios: a constante atualização do conhecimento, pesquisa, desenvolvimento de soluções etc, mas, na minha opinião, a principal diferença para quem veio do Desenvolvimento Front-End e migra para UX está em envolver pessoas no centro do seu processo de conhecimento e criação de soluções.

Acredito fortemente que podemos usar diversos métodos de investigação e teorias para justificar uma idéia, mas não serão tão eficientes se quem irá utilizar a solução não for envolvido.

Somente o usuário poderá orientar e certificar se uma solução está atendendo às suas necessidades, se é fácil de usar, se contém as informações que ele precisa etc.

O grande desafio está em envolver estas pessoas, encontrar os perfis corretos, planejar encontros, extrair dados de reuniões ou dinâmicas, consolidar as informações, gerar insights de possíveis soluções, prototipar e testar com estas pessoas para validar se a solução atende suas necessidades. Se não acertar de primeira, o ciclo reinicia e assim vai, agora com mais conhecimento.

O tempo é escasso, a pressão é grande, mas é incrível como aprendo e me surpreendo durante estes ciclos. Idéias ótimas surgem de dinâmicas colaborativas multidisciplinares. Paradigmas pessoais caem. Um exemplo disso é a afirmação de Bruno Passos — Front End Developer do site Booking.com, no podcast #25 do ZOFE — que afirma que “estamos errados em mais de 90% das vezes” no que se refere, por exemplo, aos resultados de testes AB com usuários reais.

Ops, ouvindo o ZOFE! :-)

O ZOFE é Zone of Front-Enders, um podcast para Front Enders. Bem, não dá para largar tudo de uma hora para outra né?

E acho que não devemos largar: um UX pode (ou, talvez, até deva) ter uma bagagem técnica boa também. Não é necessário saber programar, mas entender sobre as tecnologias do projeto, limitações, tempo de implementação etc, pois algumas idéias, podem comprometer prazo, orçamento e inviabilizar o desenvolvimento. Ter uma boa base de desenvolvimento pode ajudar a salvar um projeto ao evitar desperdícios de tempo e dinheiro.

Então, se deseja vir para este lado da força, descubra e inclua a pessoa para quem seu sistema vai ser projetado no seu fluxo, estude bastante e pratique mais ainda.

Seja como Front End ou UX, seus projetos serão muito melhores.

Abaixo separei algumas referências de materiais, livros, blogs etc que fizeram parte do meu dia a dia neste ano e me ajudam nesta nova fase.

Agradeço aos meus colegas do UX CI&T pela parceria que temos, e em especial ao @Danilo C. de Almeida, @Ana Marafiga e @Jeancarlo Cerasoli que foram meus leitores usuários-teste na criação deste texto. Obrigado!

Informações e cursos de design centrado no usuário:

Livros:

Blogs/Sites sobre UX:

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Marcus Amendola
CI&T Design

Product designer expert @Ciandt ex-iFood lead designer