Personagens: Brás Cubas (‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, 1881)

A seguir, apresentamos um perfil de uma das principais criações de Machado de Assis: o “defunto-autor” Brás Cubas.

Obliq Livros
Clássicos Anotados
3 min readOct 14, 2021

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O ator Reginaldo Faria na pele de Brás Cubas no filme ‘Memórias Póstumas’ (2001) | Xando Pereira, Folhapress

Por Obliq Livros

“Que há entre a vida e a morte?”, pergunta, filosoficamente, a certa altura das Memórias Póstumas de Brás Cubas o desconcertante narrador e principal personagem do romance. Logo em seguida, o próprio “defunto-autor” responde (não sem sua contumaz dose de ironia e melancolia): “Uma curta ponte”.

Analogamente, nós perguntamos ao leitor deste artigo: E entre um personagem e o reconhecimento das suas idiossincrasias, o que há?

Certamente, uma leitura atenta, especialmente, atenta aos pormenores, claro. Mas, de forma prática, essa leitura atenta não deverá dispensar “post-its”, um lápis ou uma caneta marca-textos, enfim, o que o leitor preferir para registrar e lembrar trechos da história esse personagem e apresentado.

Um exemplo: o personagem Brás Cubas (1805–1869), que nasceu no Rio de Janeiro três anos antes da chegada da família real portuguesa ao Brasil e viveu durante o Primeiro Reinado, a Regência e três décadas do Segundo Reinado, época de consolidação do sistema escravista-patriarcal e do parlamentarismo oligárquico.

Enquanto tipo histórico, obviamente, Brás Cubas é uma caricatura, já que possui (em grau exagerado, deformado e jocoso ) os caracteres distintivos dos homens de sua época. De modo restrito, ele é uma caricatura da elite brasileira, patriarcal, que vivia na Corte no século XIX; e de modo mais amplo, ele é caricatura do homem ocidental moderno.

A seguir, apresentamos trechos do romance em que Machado de Assis apresenta algumas das características principais daquele que é uma de suas principais criações.

“Eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço”.

“Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos”.

“… Um solteirão, que expira aos sessenta e quatro anos não parece que reúna em si todos os elementos de uma tragédia”.

“Morri de uma pneumonia; mas, se lhe disse que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa de minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade”.

“Virgília foi meu grão de pecado da juventude; não há juventude sem meninice; meninice supõe nascimento; e eis aqui como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, em que nasci”.

“Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de ‘menino diabo’ e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso”.

“Assim, eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência”.

Fontes:

  • Memórias Póstumas de Brás Cubas Anotado. Machado de Assis. Volume 4 da coleção Clássicos Anotados. Obliq Livros, 2021.
  • “Brás Cubas e a solidariedade do aborrecimento humano”. Victor Cei Santos, Contexto (Revista do programa de pós-graduação em Letras), Ufes — Universidade Federal do Espírito Santo.
  • Dicionário de Machado de Assis. Francisco Pati. Conselho Estadual de Cultura de São Paulo, 1972.

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