O que aprendi abordando pessoas na rua para responder pesquisas

Thamires Lima
clavedefa.co
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4 min readOct 28, 2016

Em pesquisas a capacidade de observação do pesquisador está presente não apenas nos resultados de estudos, mapeamentos, relatórios e laudos, mas também nas etapas iniciais da pesquisa, como na coleta de dados, na qual há a possibilidade de abordar presencialmente pessoas.

O momento do recrutamento demanda do pesquisador comprometimento, paciência e capacidade de observação. E é sobre esse olhar do pesquisador — que talvez em algum momento tenha mirado em você e te abordado na rua — que irei abordar nas linhas seguintes.

Na pesquisa de grupo focal, por exemplo, uma das etapas iniciais da coleta de dados é o recrutamento de participantes, que pode acontecer em ruas, praças, parques, etc.

Por que o pesquisador foi até você? Sorte ou azar?

Em abordagem realizada na rua para participação em pesquisas, um ponto fundamental é observar as pessoas que devem ser recrutadas. Elas são delimitadas a partir do público-alvo da pesquisa, que é definido lá atrás na etapa de planejamento.

O público-alvo de uma pesquisa podem ser pessoas de uma determinada faixa-etária, que possuam uma renda mensal X ou que residam na Zona Norte, Oeste ou Sul.

Quando a gente faz abordagem na rua para pesquisas a regra-de-ouro de um bom pesquisador é observar a dinâmica do local.

No recrutamento não basta apenas chegar na região onde será aplicada a pesquisa e de forma obstinada “caçar” o público-alvo da pesquisa. O pesquisador que está em campo deve primeiramente ter uma sensibilidade para observar o ambiente físico onde está trabalhando.

Uma abordagem de pesquisa em frente a um sinal de trânsito ou num ponto de ônibus é difícil e deve ser evitada porque as chances de você conseguir abordar alguém são mínimas e, além disso, é bem provável que a pessoa dê mais valor ao ônibus passando do que a você que está trabalhando.

Assim, é importante observar os pontos de fluxo de pessoas, o momento em que uma determinada área fica mais movimentada e no caso do Hell/Rio de Janeiro privilegiar um local que tenha sombra. Nessas circunstâncias, há mais chances da pessoa parar e se dispor a falar com o pesquisador ;)

Em 2014, numa pesquisa coordenada pela Clave de Fá com estudantes universitários na cidade do Rio de Janeiro, enquanto realizava o recrutamento de estudantes para participarem de um grupo focal, aqueles que abordei me faziam perguntas sobre o que é um grupo focal, o que iriam “fazer lá” e qual era o objetivo da pesquisa.

Observei que o público-alvo — ao invés de reagir como aquele meme acima — era bastante curioso e, portanto, eu tinha de estar preparada para responder os diversos questionamentos que me faziam.

Com isso, na Clave de Fá valorizamos a preparação dos pesquisadores de campo. Acrescentamos no planejamento do projeto o treinamento — tanto de coordenadores quanto de entrevistadores — da equipe de campo. Isso garante um trabalho de campo eficiente e que as pessoas sejam mais receptivas a essa “temida” abordagem.

A preparação envolve, portanto, três pontos fundamentais:

· avaliar a dinâmica do espaço em que se está trabalhando;

· fazer uma abordagem rápida, objetiva e clara — tipo um Pitch de elevador (30 segundos)

· estar preparado para esclarecer quaisquer dúvidas que venham a perguntar sobre a pesquisa.

A gente percebe que quando o nosso colaborador fala com segurança e propriedade sobre seu trabalho, a pessoa abordada se sente mais confiante para falar e dialogar com a pesquisa, o que consequentemente faz com que a gente consiga bons materiais coletados, assim como bons resultados finais. Toda a equipe (os coordenadores, entrevistadores e a pessoa abordada/entrevistada) sai ganhando nesse trabalho.

Viu como a pesquisa “na rua” é um trabalho bem fundamentado! Ajude a divulgá-lo, dando um ❤

Já foi abordado para participar de pesquisas? Como foi?

Thamires Lima é mestre em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com ênfase em Antropologia Urbana. Possui habilidades em gestão de projetos de impacto através do uso de metodologias participativas de projetos e na combinação de metodologias qualitativas de pesquisa e coleta de dados. Atua na coordenação de equipes de trabalho de campo e coleta de dados, gestão de projetos, análise de dados e produção de relatórios de pesquisa aplicada.

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Thamires Lima
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Anthropologist Researcher — Leitora curiosa sobre vida, redes sociais, pesquisa, gênero e tudo que é urbano