O dia em que parei de codar

Cléber Zavadniak
clebertech
Published in
5 min readDec 28, 2020
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Sim, esse dia chegou. Não que eu tenha absolutamente parado de “codar” (codar: ato de escrever código, programar), mas aconteceu um momento em que eu tinha uma ideia magnífica na cabeça para um sistema interessante que resolveria um problema meu e quiçá um problema de milhares de outras pessoas e, todavia, decidi que não iria sentar minha poupança bem torneada na cadeira e investir um tempão para escrever o código, preparar para publicação, botar no ar, escrever a respeito e, finalmente… esperar que alguém se interesse pela coisa e aos poucos uma ou outra pessoa comece a usar.

Codar ou artigar

Tem algumas semanas aconteceu uma situação iluminadora na minha vida: colega de um grupo de WhatsApp compartilhou um artigo que havia escrito lá no Medium. Fui lá, li o artigo, achei bacana, e “na volta” ele comentou que tinha conseguido um número X de leituras em todos os artigos dele dentro de não-lembro-quanto-tempo.

E isso me deixou absolutamente chocado, porque o que ele conseguia de reads em tanto tempo era praticamente o mesmo que eu conseguia em reads diários.

Além disso, comecei a seguir o sujeito e dei uma olhadela em quantas pessoas o seguiam. Era um número razoável. E então, curioso, fui comparar com quantos seguidores eu mesmo tinha e fiquei novamente chocado: são mais de quatrocentas pessoas!

Isso é um número gigantesco? É óbvio que não. Mas considere que escrever artigos não é exatamente uma prioridade na minha vida até agora e muito menos cultivar uma audiência. Na prática, eu sinto que “meio que não fiz nada” e, “quando acordei”, eis aí algumas centenas de pessoas que em algum momento de suas vidas disseram a si mesmas “hum, interessante o que esse cara escreve, quero ler mais eventualmente”.

E mesmo mantendo os dois pés firmemente no chão a respeito disso, sabendo inclusive que tem aí uma boa porcentagem que, tão logo pensem duas vezes, decidirão simplesmente parar de me seguir (é tão estranho usar esse termo…), além da porcentagem que no fim das contas nunca vai ler mais nada, mesmo, ainda assim quando chegou a hora de codar o projeto que eu tinha em mente, logo fixou-se em minha mente essa ideia de que o esforço que eu faço que pode atingir muito mais pessoas é simplesmente gastar uma hora ou duas do meu dia e escrever um bom artigo ao invés de despejar dezenas (ou centenas) de horas em algum projeto de software que, meh, talvez meia dúzia de pessoas ache interessante (e talvez duas pessoas façam uso, realmente).

Codar não é só codar

E, claro, há também o desenvolvimento dessa minha nova noção a respeito de software: que não importa tanto assim a qualidade técnica ou mesmo a utilidade da coisa, mas é todo o entorno que decide se teu projeto terá sucesso ou não. Bote nessa conta como fator responsável por pelo menos 50% do sucesso um Website belo.

Curioso, não? O software pode ser bem ruinzinho, mas terá sucesso se souber se apresentar adequadamente.

Food for thought, não?

Ademais, tenho tentado sempre lembrar da seguinte máxima: pegar um hobby e transforma num “produto”? Errado! Resolva algum problema real. Isso é um produto.

(Ou um serviço.)

Então, no fim do dia, ainda é bom escrever algum código para me manter afiado. Eu já tenho minha cota disso na firma, mas é bom também explorar coisas novas sem ter que dar conta de nada para ninguém. Muita coisa interessante se descobre assim. Todavia é bom saber o lugar que isso tem e acho salutar não alimentar esperanças vãs a respeito de “algum sistema” que “do dia pra noite faça muito sucesso”.

Sucesso sem trabalho? É… não quero ter isso nos meus planos, sabe?

Artigar é só artigar

Não é assim tão fácil sentar e escrever um artigo e admito que sou daqueles que nem sempre sentem-se “inspirados” para fazê-lo, coisa que demonstra total amadorismo, já que um profissional não somente consegue escrever mas também escreve bem sem essas frescuras de “sentir-se inspirado”.

O pão de cada dia, afinal, não poderia depender de “inspiração”!

Melhor para mim que meu pão de cada dia (ainda não) depende de escrever regularmente.

Apesar de tudo, escrever algo que seja razoavelmente interessante e potencialmente “iluminador” para alguém não é uma tarefa assim tão complicada. É verdade, há ocasiões em que gasto literalmente o dia inteiro escrevendo algo, mas nem sempre é o caso. Alguns bons artigos saem até bem rápido.

E é interessante notar que se aprende muito escrevendo. Sabe aqueles artigos que escrevi sobre como implantar alguns processos em equipes sem processo nenhum? Pois é, foi interessante me obrigar a estruturar minhas ideias de forma a escrever algo que não somente fizesse sentido como pudesse também ser implementado de alguma forma. Nesse sentido me parece até que, de certa forma, aprendo mais escrevendo do que lendo (não estou sozinho nessa, é claro: vide os estudos sobre as melhores formas de aprender e verá que “ensinar” está sempre no topo).

Newsletter

Tentei criar uma newsletter antes e, sinceramente, agradeço demais as pessoas que inscreveram-se nesse meu antigo projeto meio maluco. Mas aquilo era obra de um momento diferente e, especialmente, de um momento meu em que não havia muito foco na minha vida (a newsletter em questão, comprovando esse meu ponto, era de “interesses gerais”).

Hoje tenho um objetivo bem mais claro: quero parar de codar profissionalmente. Se for preciso ganhar o pão de cada dia assim, ótimo, porque eu sei que sou muito bom nisso, mas sempre que me for dada a escolha, prefiro trabalhar com gestão, processos, treinamento e orientação no geral (e se houver uma pitada de Arquitetura de Software, melhor ainda).

E é por isso tudo que estou decidindo me aventurar novamente no mundo das newsletters. Consegui uma audiência meio sem esforço? Pois agora irei me esforçar. Tenho escrito artigos meio que como hobby? Agora vou levar bem mais a sério, inclusive focando direito nisso, que é uma das coisas mais concretas que tenho no momento, ao invés de ficar por aí perseguindo o vento.

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