Você perdeu sua oportunidade por um erro bobo!
[Originalmente publicado em 24/05/2015. Re-editado em 01/01/2017.]
Em 2015 eu publiquei uma vaga para programador Python/Linux. Não era uma vaga qualquer. Quem gosta de Python e Linux tende a amar o tipo de trabalho ofertado. Para entrar em contato comigo sobre a vaga, bastava entrar no meu blog pessoal, ir na página “Contato” e me enviar suas informações. Não é difícil, é?
Não, não é difícil. Mas as pessoas simplesmente não conseguem fazer isso direito. Por exemplo: no formulário tem um campo perguntando o seu endereço de e-mail ou seu telefone? Não. Você também não faz login no site. Logo, é óbvio que você precisa enviar, junto com sua mensagem, uma forma de contato. Muito óbvio!
Mas não me interprete mal. Não estou aqui simplesmente reclamando da vida. Eu acho importante que as pessoas saibam o quão importante é fazer as coisas direito. O quão importante é prestar atenção ao que se faz.
Como envio meu currículo?
Outro erro comum: o campo “mensagem” é uma área de texto simples. O formulário não foi feito para receber, especificamente, currículos. Então as pessoas vão até o formulário e mandam suas mensagens perguntando: (1) “como faço para enviar meu currículo?” e (2) “como envio meu github?“.
O rapaz que perguntou “como envio meu github?” (para quem não sabe, trata-se meramente de enviar o link para seu perfil no github.com) já saiu do processo nessa primeira interação. E, vejam só, eu nem tenho como respondê-lo, pois ele não me deu uma forma de contato. Ele nem mesmo usou o nome completo, então não tenho sequer como buscá-lo pela internet!
Além disso, o problema que parece mais evidente é usar um canal de comunicação para pedir um canal de comunicação. Você já tem um, meu filho, usa logo o que você tem em mãos!
Sobre perguntar “como envio meu currículo”, há um problema ainda maior, já que é uma vaga para programador. Ora, quem pergunta “como envio meu currículo” dá a entender que não sabe usar esta maravilhosa ferramenta chamada “internet”, especialmente para fazer o que estamos fazendo há mais de 20 anos: compartilhando arquivos. Você joga o arquivo no Dropbox e cria um “link mágico” para compartilhá-lo. Ou você torna teu perfil no Linkedin o currículo em si. Ou você usa uma das centenas de ferramentas de criação de currículo online. Ou você hospeda o arquivo no seu próprio servidor web. As possibilidade são tantas! O que pode impedir uma pessoa de fazer coisas tão simples? Desatenção? Inexperiência? Pura preguiça? Eu não sei e não quero saber. Mas recomendo que você, que lê este artigo, pense a respeito.
No Linkedin, mas inacessível!
Correndo atrás de candidatos para a vaga, fui logo pesquisar no Linkedin. E encontrei pessoas excelentemente qualificadas, que pareciam adequar-se muito bem às necessidades da empresa. Todavia, logo após a decisão “vou contactar esta pessoa”, vem a grande decepção do “mas como vou fazer isso???”.
Coloque uma forma de contato publicamente visível no seu perfil do Linkedin! A não ser que novas oportunidades de emprego não sejam, absolutamente, do seu interesse, claro.
Atenção à descrição da vaga
Depois enviei a vaga em um sistema feito justamente para isso da PUC-PR. A descrição da vaga era, somente: “saber programar em Python sobre Linux”. Recebi vários currículos, sendo que pouquíssimos sabiam programar em Python. A descrição da vaga não poderia ser mais simples e, no entanto, fui obrigado a questionar praticamente todos os candidatos. “Seu currículo está atualizado? Você sabe programar em Python”. E a resposta era, em geral, que não. =(
Outros detalhes
Talvez seja algo muito particular meu, mas acho importante avisar sobre outros “detalhes” que, mesmo parecendo pequenos, influenciam muito a decisão de contactar um candidato ou não:
- Currículo em .doc ou .docx perde pontos. Se for enviar arquivos (que, na verdade, eu preferia que não fossem enviados), mande sempre PDFs.
- Isso é algo bastante pessoal meu, mas fumantes perdem pontos. Se eu sou o recrutador, você tem que ser tecnicamente superior a todos os outros para poder ser chamado. E eu prefiro um não-fumante tecnicamente inferior a um fumante, em geral. (Ah, e diga no seu currículo que você fuma, se for o caso. Descobrir isso no meio da entrevista poderá marcá-la como algo decepcionante para os envolvidos.)
- Formação acadêmica não quer dizer nada se não houver experiência. E experiência pode ser qualquer coisa, inclusive projetos pessoais (lembre-se: sou da área da computação). Dizer orgulhosamente que é PhD. sem ter experiência soa, para mim, como uma tentativa barata de engodo.
- Erros de ortografia e gramática eliminam suas chances. Afinal, você tem todo o tempo do mundo para escrever uma página, apenas uma!, sem cometer erros, e você falha miseravelmente. Como eu vou confiar em alguém assim para executar qualquer tarefa na empresa?
- Ausência online (o contrário de “presença online”) também diminui suas chances. Publique seus projetos, fale sobre as coisas que você gosta, colabore com outras pessoas. Exista.
- Cartas de apresentação aumentam em cem vezes a possibilidade de você estragar tudo. Por quê? Porque ou ela é muito boa ou ela é horrível. Você só tem uma chance: deixá-la muito boa. E até a definição de “muito boa” varia de recrutador para recrutador. Da minha parte, eu prefiro que não haja carta e, se houver, deve ser um parágrafo mínimo e completamente destituído do famigerado “pró-ativo, assertivo e responsável”.
- Currículos devem ter no máximo duas páginas, sendo uma o ideal. Primeiro, porque você deve ter presença online, então não precisa escrever tudo no currículo. Segundo, porque só vou querer saber mais detalhes durante a entrevista.
- Mas, idealmente, não tenha um “Curriculum Vitae”. O Linkedin e o Github estão aí pra isso. ;-)
Eu sei que parece um texto muito chato e negativo, mas, visto sob outra ótica, é uma excelente demonstração de que “a média”, às vezes, é tão baixa, que com pequenas mudanças de atitude você já consegue se sobressair. Então aproveite a oportunidade!