Ao Oeste!: Aprendendo história através do game Red Dead Redemption 2

Um olhar pedagógico sobre a relação entre história e videogames

Monica Tortorette Costa
Clio: História e Literatura
5 min readSep 9, 2019

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Red Dead Redemption 2, da Rockstar games, foi lançado em 2018 e é o segundo jogo da franquia Red Dead Redemption. No primeiro jogo da franquia, contextualizado em 1911, o protagonista é John Marston, que após ter sua família sequestrada precisa localizar e entregar membros de sua antiga gangue para conseguir o resgate de sua família.

Poster do game Red Dead Redemption 2

Já em Red Dead Redemption 2, vemos os últimos momentos da gangue Van Der Linde, se passando em 1899. O protagonista é Arthur Morgan e a história se passa bem no finalzinho do século 19, contando um pouco do fim do Velho Oeste e o crescimento da urbanização com a configuração das cidades como as conhecemos hoje. Arthur faz parte de uma gangue que vive clandestinamente orquestrando inúmeros roubos e furtos, e John, protagonista do primeiro jogo, também faz parte da gangue. Com o crescimento das cidades vem também o enrijecimento das leis, e a gangue Van Der Linde se encontra ameaçada, pois está sempre sendo perseguida por onde passa.

Cena do gameplay do jogo

O jogo é em mundo aberto, ou seja, é preciso completar inúmeras missões ao longo da trajetória para dar prosseguimento com a história. Existe um nível de honra que pode variar do máximo ao mínimo dependendo do que é realizado ao longo da jornada: se o personagem matar pessoas sem propósito, se age com maldade, se é rude com as pessoas da gangue, se comete alguma atrocidade, dependendo do número de assaltos ou furtos que ele realiza ao longo do jogo, se ele aceita ajudar ou não personagens secundários que encontra ao longo da história, etc. Uma das coisas mais incríveis do jogo são as variedades disponíveis para o Arthur, pois o jogador é guiado por um mapa, possibilitando guiar os caminhos traçados pelo personagem. Por esses trajetos, encontram-se muitas histórias separadas do enredo principal, nas quais Arthur pode se envolver ou não, e isso está diretamente ligado com a sua honra e com alguns questionamentos feitos pelo personagem.

Mas qual é o ponto principal que eu quero chegar levantando essas informações? O jogo é muito comprido e trata de inúmeras questões, então infelizmente não consigo entrar em coisas mais específicas dele. Mas uma das melhores coisas é o quanto o personagem transita entre as noções de bem e mal. Há momentos que nos questionamos sobre o caráter de Arthur, mas dificilmente conseguimos uma resposta.

Um dos temas mais importantes no jogo é a questão indígena, que possui um papel importantíssimo no desenrolar da história, afinal de contas o jogo trata de um período no qual os índios estavam sendo muito perseguidos. Como sabemos da própria história dos Estados Unidos, os índios foram massacrados, houve o genocídio contra a população indígena e encontramos um pouco dessa história no jogo. Primeiro que não podemos usar armas quando entramos em uma aldeia indígena, e penso que ao desabilitar o uso de armas no jogo em uma aldeia indígena seja por motivos óbvios. Mais para o final do jogo a história se volta para ajudar a aldeia, e infelizmente, vemos como as autoridades planejam exterminar a população indígena.

Outras questões atravessavam a passagem do século 19 para o 20 e se apresentam em Red Dead Redemption 2: o racismo e o sufragismo. Quando a gangue se refugia ao sul do mapa do jogo, os personagens se deparam com o racismo da região. Tilly, a única moça negra que compõe a gangue, fala com Arthur o medo em continuar pelo sul e pede para saírem de lá. O jogador também encontra ao longo do jogo algumas celebrações da Ku Klux Klan, e inclusive é possível atacar essas celebrações, fazendo Arthur ganhar honra. Já o sufragismo aparece quando Arthur vai para a maior cidade do jogo, com personagens femininas realizando protestos exigindo igualdade de gênero. Em uma missão Arthur ajuda as sufragistas a realizarem uma pequena manifestação.

É importante frisar que o jogo é uma ficção, mas ele se baseia numa história real dos Estados Unidos, ou seja, no processo de urbanização onde as leis se estabelecem, se tornando mais rígidas. Está decretado o fim do anonimato: ou se tem uma propriedade e identidade ou é um fora da lei. Vemos que quem não se enquadra a todo esse sistema que está sendo estabelecido nos Estados Unidos é caçado por ele, como no caso da gangue à qual Arthur pertence. Acima de tudo, alvo principal são os indígenas, que nesse contexto já estavam em um número extremamente reduzido, então vemos no jogo é um reflexo real das atrocidades passadas pelos índios nesse momento do finalzinho do século 19 para virada do século 20, uma caçada de extermínio dessas pessoas às aldeias indígenas. O sufragismo já aparece com mulheres brancas exigindo os mesmos direitos políticos aos dos homens. A abolição sendo muito recente ao tempo tratado na história, havia também perseguição a população negra, principalmente no sul que era declaradamente contra a abolição.

Alunos de uma escola estadunidense utilizam o videogame para aprender

Enfim, o jogo é uma baita experiência, a história é muito densa em alguns pontos, até divertida. Infelizmente, sabemos ser inacessível pelo preço do console, mas podemos olhar e analisar que o jogo se estabelece como uma forma de entretenimento, mas nos guia também a questionamentos para vasculhar um pouco da história que muitas vezes sofreu tentativas de serem apagadas. Afinal, qual nação quer ser lembrada da sua história pelo genocídio de uma população e quer se dar o trabalho de se redimir?

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