A falta de…

Elaine Alves
Clube da Escrita Afetuosa
1 min readMar 31, 2022

Me deparei com a ideia de que não tenho objeto afetivo

De inicio, a angústia.

Sempre quis fincar chão, sempre quis chamar de meu um lar e fazer dele um lugar cheio de mim. Não consegui.

Ainda.

Sabe aqueles lugares onde entramos e os objetos tem vida? Contam uma história?

É assim na casa da minha irmã! Cada pedacinho é cheio dela! E eu passo horas olhando as coisas que habitam lá.

De umas eu lembro. Faço parte!

Outras são mistérios. Puro deleite.

Acabei de me deparar com a ideia de que não tenho objeto afetivo.

Talvez meus livros?

Minha coleção de mistério da Agatha.

Tá valendo?

É que pra mim não são objetos. São portais que me remetem a quem um dia fui.

A menina despreocupada, sorridente e inteligente, cúmplice de Poirot na elucidação de surpreendentes crimes.

Não são objetos, definitivamente!

Até tentei em viagens comprar algo que gostasse e que representasse aqueles momentos. Em vão. Nada se equivalia ao que vinha no coração.

Talvez as fotos. Mas foto é mais que objeto. Foto é lembrança viva. Muitas delas carrego aqui no peito.

Me angustio com a inabilidade de representar fora o que carrego dentro.

Talvez por não me conhecer tão bem.

Ou por por não me permitir materializar sonhos?

Não sei.

O que sei é que olhar pra isso mexeu aqui dentro.

E me causou até, uma certa satisfação disruptiva.

Parir objetos que falem de mim e para mim pode ser mais um caminho da minha jornada rumo à minha essência. Que delícia.

Elaine Alves 31.03.2022

desafio: 04mar22

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