A falta de…
Me deparei com a ideia de que não tenho objeto afetivo
De inicio, a angústia.
Sempre quis fincar chão, sempre quis chamar de meu um lar e fazer dele um lugar cheio de mim. Não consegui.
Ainda.
Sabe aqueles lugares onde entramos e os objetos tem vida? Contam uma história?
É assim na casa da minha irmã! Cada pedacinho é cheio dela! E eu passo horas olhando as coisas que habitam lá.
De umas eu lembro. Faço parte!
Outras são mistérios. Puro deleite.
Acabei de me deparar com a ideia de que não tenho objeto afetivo.
Talvez meus livros?
Minha coleção de mistério da Agatha.
Tá valendo?
É que pra mim não são objetos. São portais que me remetem a quem um dia fui.
A menina despreocupada, sorridente e inteligente, cúmplice de Poirot na elucidação de surpreendentes crimes.
Não são objetos, definitivamente!
Até tentei em viagens comprar algo que gostasse e que representasse aqueles momentos. Em vão. Nada se equivalia ao que vinha no coração.
Talvez as fotos. Mas foto é mais que objeto. Foto é lembrança viva. Muitas delas carrego aqui no peito.
Me angustio com a inabilidade de representar fora o que carrego dentro.
Talvez por não me conhecer tão bem.
Ou por por não me permitir materializar sonhos?
Não sei.
O que sei é que olhar pra isso mexeu aqui dentro.
E me causou até, uma certa satisfação disruptiva.
Parir objetos que falem de mim e para mim pode ser mais um caminho da minha jornada rumo à minha essência. Que delícia.
Elaine Alves 31.03.2022
desafio: 04mar22