A grande aventura de Eric

Barbara Fonseca
Clube da Escrita Afetuosa
5 min readJul 1, 2022

Esta é uma história sobre imaginação. E para imaginar, como você já sabe, o melhor é fechar os olhos. Por isso, vou te pedir que faça esse exercício. Que logo depois de ler as próximas linhas, você feche os olhos por alguns instantes para imaginar.

Se damos um giro, olhando para o alto, tudo o que encontramos são montanhas. Estamos em um vale, que é o nome dado a esses lugares escondidos entre morros, abraçados por eles.

Em nosso vale, há casas pequeninas feitas de pedra, que é para manter o calor no inverno. Nessa época, as montanhas são pintadas pelo branco da neve.

Uma dessas casas é a de Eric, um menino de nove anos como muitos por toda parte do mundo. Um menino que, pelas manhãs, vai à escola, e que, pela tarde, depois de fazer os deveres, sai para brincar com seus amigos.

Ele sobe em árvores, se mete pelos bosques e joga pedras no rio. É o seu jogo favorito: disputar quem consegue atirar a pedra mais longe, num movimento que faz com que ela quique várias vezes na superfície da água, como se fosse um sapo.

Eric tem uma vida tranquila, como deve ser quando um menino tem nove anos. Mas, prestes a completar dez, ele vai receber uma notícia que vai sacudir tudo.

Foi numa tarde como outra qualquer. Eric estava distraído no quintal, seguindo uma fila de formigas que avançava pela grama. Foi quando lhe chamaram para dentro de casa. Lá estavam o pai e a mãe sentados no sofá, com uma cara que o menino nunca tinha visto antes.

-Eric, temos uma coisa importante para te contar.

Começou o pai, seguido pela mãe.

-Você se lembra de quando conversamos sobre o trabalho da mamãe? Então, chegou a hora. Fui chamada para trabalhar numa outra cidade. Vamos nos mudar.

Eric foi tomado por um susto tremendo ao escutar a notícia, parecia até que tinha visto assombração. Ou topado com um lobo pelo bosque. Chorou, esperneou, mas não teve jeito, a decisão estava tomada: a família ia se mudar do vale.

Para tentar animá-lo, a mãe de Eric lhe mostrou fotografias do lugar para onde se mudariam. Era um povoado também de casas pequeninas, como o do vale. Porém, as casas eram feitas de madeira, que serve para manter o frescor nas noites de verão. É que o novo lar, veja só, ficava na praia!

Mas Eric não estava nem aí. Não queria saber de praia e nem de nada. Só pensava na despedida de seus amigos, das montanhas, do bosque e do jogo de atirar pedras no lago.

No dia da mudança, passou toda a viagem emburrado. Não sorriu nem quando chegaram e deram de cara com o gigante mar azul. Queria voltar para o vale.

Na manhã seguinte, o pai insistiu que eles fossem à praia. Eric nem se lembrava de como era uma praia. Há muito tempo não saía do vale e se acostumou a pensar que aquele era o único lugar que existia no mundo.

Achou tudo sem graça. Não quis brincar com a areia ou pular as ondas, como faziam as outras crianças. E, de pirraça, avisou ao pai que ia dormir. Pegou sua toalha, estirou-a no chão e deitou de olhos fechados.

De repente, estava no meio do mar. O pai e as outras pessoas da praia eram somente pontinhos avistados de longe. Gritou, mas ninguém podia ouvi-lo. Então, de desespero, começou a bater os braços e as pernas.

Quanto mais se movia, mais cansado ficava. Tão cansado que perdeu as forças, deixando-se cair como uma âncora para dentro do mar.

Mas algo estranho aconteceu. Enquanto afundava, Eric percebeu que podia respirar debaixo d’água!! Ficou tão aliviado, que começou a nadar sem rumo, encantado com aquele mundo de cores e formas que nunca tinha visto antes.

Foi quando avistou, abaixo de seus pés, amontoados de pedrinhas redondas, parecidas às pedras que ele costumava atirar no rio do vale.

Desceu até elas e agarrou duas. Por curiosidade, chocou uma na outra, para saber o barulho que tinham. E, ao fazer isso, foi surpreendido por um peixe fluorescente, que veio nadando rápido em sua direção.

Eric não sabia, mas acabava de conhecer a Bubbles. Um peixe amarelo, verde, rosa e azul muito famoso naqueles mares por sua inteligência.

Era tão esperto que aprendeu com um mergulhador a atender ao chamado das pedras. Cada vez que o homem as tocava, Bubbles aparecia para brincar, ainda que muita gente não acredite que peixes gostem de brincar.

Mas Bubbles sim era um brincalhão, assim como o menino Eric. Por isso, na mesma hora viraram amigos. E mesmo com as diferenças — um era menino, o outro peixe, — se divertiram por horas no fundo mar, atravessando florestas de algas, imitando a dança das estrelas marinhas, seguindo tartarugas e flutuando sobre as arraias, que mais pareciam aviões.

Eric se sentia tão bem, que se esqueceu da pirraça. Claro que ele se recordava das montanhas, do vale, dos amigos. Mas agora era com alegria e não com a tristeza de antes. E no meio de tanta felicidade, escutou, de longe, a voz do pai chamando o seu nome.

Olhou para o alto e lá estava a cara dele, do lado de fora da água, buscando o menino no fundo do mar. Sabia que tinha que subir de volta, que não poderia ficar para sempre debaixo da água. Então, se despediu de Bubbles e nadou para cima.

Ao abrir os olhos, Eric se viu na areia, deitado sobre a toalha de praia. O pai foi quem lhe despertou e trazia um picolé na mão, que era para tentar alegrar o menino.

Confuso, sem saber se aquilo tinha sido um sonho, Eric beliscou os próprios braços e esfregou os olhos. Não era possível que estava sonhando, se tudo parecia tão real!

Foi quando sentiu que levava alguma coisa dentro do bolso do calção de banho. Enfiou uma das mãos para comprovar e, adivinhem? Ali estavam as duas pedras negras e redondas; as pedras que tocou para chamar a Bubbles.

Naquele momento, colocou um grande sorriso na cara, como não fazia há semanas, desde que recebeu a notícia da mudança de casa. Quis abraçar o pai e a mãe e contar-lhes sobre as descobertas no fundo do mar. Estava contente por morar na praia e entendeu, à sua maneira, que por trás de toda mudança, há uma grande aventura.

--

--