A porta aberta

Era mais uma daquelas situações em que o coração até estava em festa, mas a mente parecia vizinha no andar de cima martelando ideias para incomodar o pulsar no andar de baixo. O motivo do celebrar tinha pele morena, barba e um sorriso sem igual. Era o namorado que chegava de “mala e cuia” como dizem os gaúchos, para morar com ela.

Além da delícia da alegria também estava por ali o medo da aparição de outras emoções que surgem sem convite e têm o poder de devastar tudo quando se resolve abrir a porta. Haviam sido semanas bastante reflexivas onde ela buscava se fortalecer entre uma respiração profunda e uma frase como se fosse mantra dizendo para si mesmo “tá tudo bem. E qualquer coisa, você já sabe arrumar a casa.” Ela estava decidida a não desperdiçar essa festa.

E como aquela não era uma sexta-feira comum, resolveu descer e comprar uma espumante para brindar. Atravessou a rua feliz em busca do seu símbolo de celebração. Bem clichê. Bem ela.

Entrou no mercado e escolheu um rosé, aos olhos dela, bem romântico. Direcionou-se ao caixa para pagar e foi ali que numa olhada rápida para a rua avistou um casal caminhando de mãos dadas e sorrindo. Seus olhos embaçaram, era como se “do nada” apagassem as luzes e parassem a música da sua festa. Mas não conseguia parar de olhar. Estava hipnotizada. Só conseguia pensar “como pessoas que fazem mal andam soltas e felizes por aí?” O moço da caixa avisava que a senha estava errada. Sim, estava tudo errado. Ela respirou profundo e digitou correto. Pegou sua garrafa e saiu porta afora. Corajosamente olhou para o lado casal que já estava longe num outro rumo. Continuou olhando como quem deseja se despedir daquela sensação. E então direcionou o olhar pro seu destino e ali, no mesmo instante chegava ele, o dono do sorriso bonito. E hoje também quem ensina que amor, alegria e calmaria cabem no coração e na casa dela.

01abr22

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