As pequenas alegrias da vida escolar

Monica Martin
Clube da Escrita Afetuosa
3 min readJul 26, 2021

Meu início da vida escolar traz muitas memórias, algumas não tão boas. Mas o tempo passou, e ficaram somente as boas lembranças: a escola próxima de casa, o uniforme novo, cadernos e livros encapados e etiquetados, a lancheira rosa e a ansiedade de rever a turma depois das férias. Na minha cabeça, ao classificar as coisas bacanas, em primeiro lugar, com certeza, era a hora do recreio, tomar o lanche rápido para brincar e correr de um lado para o outro no pátio, levando bronca do bedel, que estragava a brincadeira e, por vezes, levava a gente para a diretoria.

Você pode estar pensando “bedel, pátio…, de que século é isso?” A resposta é século passado, mais precisamente nos anos 70. Se recordar é viver, resolvi recordar e dei um google para buscar coisas dessa época. Vieram as lancheiras de cores e garrafinhas diferentes, o bauzinho que foi moda, tipo uma mochila com cara de mala, a borracha vermelha e azul, que mais borrava o caderno do que apagava, as canetinhas “Sylvapen”, com 6 e as mais cobiçadas, com 12 canetas. Elas diziam muito do seu nível econômico, na verdade. Os alunos em melhor condição financeira, exibiam orgulhosos, os estojos com 12. Assim como, as caixas de lápis de cor de 48 cores, muitas delas que nunca eram usadas, tipo o que seria hoje o “nude”. Eu ficava pensando “pra que serve isso?” Pensamento que escancarava a inveja total, de quem cobiçava, os 10 tons de cinza, o verde de tom duvidoso, o rosa desfalecido e o azul piscina.

Uma imagem, porém, me fez voltar no túnel do tempo: o estojo de madeira com tampa de fórmica colorida e deslizante, o máximo da tecnologia nos primórdios da vida escolar. Você deve estar se perguntando” o que é fórmica?”. Vou ficar devendo essa, dá um google. Voltando, esse estojo era o máximo com 2 ou 4 compartimentos para guardar os lápis e borrachas, e mais adiante, como numa promoção, canetas de 4 cores (recomendo novamente dar um google) e o lápis borracha. Lembrei-me do som que tampa fazia ao deslizar e abrir toda a riqueza que começava a se esconder lá dentro: o chiclete Adams, os anéis que vinham nos doces vendidos na rua e os bilhetinhos que guardavam o maior dos segredos, o nome do garoto por quem meu coração batia mais forte. Nós, meninas, com estojos sempre limpos e brilhantes, a bagunça era dentro mesmo. Os dos meninos, com a madeira riscada com desenhos e palavrões que até o final do ano ficavam ilegíveis. E a “cola”, presente indiscriminadamente nos estojos de toda a sala de aula no dia de prova. Num cotidiano, ao entrar e sair dos anos escolares, momento inclusive, de abandonar o estojo de madeira e seguir em frente nas pequenas coisas de quem começava a ver e sentir o mundo em suas agruras, alegrias e mistérios.

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Monica Martin
Clube da Escrita Afetuosa

Apaixonada por ouvir pessoas, estimular ideias e a construção de projetos de vida. Amo livros, boas conversas e longas caminhadas. Da escrita, uma aprendiz.