Baú de Sonhos
Meus bisavôs vieram de Portugal fugidos da guerra. Da primeira. Nos porões fétidos de um navio enorme. Muita gente junta. Com os mesmos sonhos nas malas. Minha bisavó trouxe com ela um pequeno baú de lembranças. Dentro fotos antigas de seus (nossos) antepassados, um pião de brinquedo, um bilboquê e uma correntinha com a medalha de Nossa Senhora de Fátima, além de muita vontade de chegar e ter um pouco de paz para criar a família.
A maior esperança era chegar e receber o ‘naco’ de terra tão esperado para plantar, criar alguns bichos e ter uma vida melhor. A terra natal ficou para trás junto com a desesperança. O país rural, analfabeto, pouco industrializado, sofria uma terrível situação econômica, social e financeira e ainda foi levada a uma guerra cruel e mortífera arrasando com o resto dos sonhos de quem queria dar uma vida melhor para seus filhos.
O Brasil estava crescendo, já era grande, terra e água não iam faltar. Nem trabalho, quem sabe estudo para os filhos. Desembarcaram no Rio de Janeiro, mas Minas é que era o destino final, perto de Belo Horizonte, lá pelos lados das estradas de São Paulo. Terra farta, boa, onde tinha muito café pra plantar e colher e muita esperança de dias melhores.
Senhor Guarino, italiano já instalado, espera no porto com o caminhão pra levar os portugueses para o vilarejo. E foram dois dias de viagem até chegar nas antigas terras dos Cataguases. As fazendas de cafés eram imensas. A perder de vista. A família se instalou no casarão da Rua de Baixo, do pequeno vilarejo e foram vivendo a vida que passava devagarinho.
E o baú de lembranças ficava em cima da cristaleira da sala, onde a bisa lembrava a todos que chegavam. ‘Que vida boa todos temos no Brasil!’ Falava sorrindo. Quintal grande, pé de frutas, forno de assar pão, riacho correndo limpo no fundo do quintal, céu sempre azul, as crianças crescendo livres, vida mansa debruçada na janela.
Ô vida boa! Ô vida rica!
