Bloqueio

Natália Figueiredo
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readJul 27, 2021

Sinto que não tenho nada a dizer. Nenhuma frase a pulsar de minha folha em branco. Nenhum sentimento a gritar de meu peito. Parece estagnação, mas achei em um texto que li uma palavra melhor: atrofiar. Verbo transitivo direto e pronominal: tornar(-se) mais debilitado ou menos intenso; minguar.

Para as palavras brotarem e darem frutos, é preciso que sejam regadas com a água do viver. E de certa forma, isso tem sido muito roubado de mim, de nós. Me arrancaram a vida que vejo até no trem lotado que odeio, nos risos da tragicômica freada brusca do motorista e no olhar de solidariedade que pede para carregar minha bolsa. A experiência do bar barulhento com cheiro de cerveja quente derramada, um casal ao lado que se conhece pela primeira vez e a reclamação política em minha mesa.

É por isso que, mesmo que se encaixe nas predefinições conhecidas nos dicionários, isso não é um texto. Isso é um vômito, um fluxo perdido de palavras que estão caminhando sem saber aonde vão parar. Tento achar sua cadência, seu ritmo, seu começo, meio e fim. Tento entender a mensagem que quero passar.

Não acho resposta, e apesar da vontade de rasgar a folha e nunca mostrá-lo a ninguém, o entrego ao mundo, no desejo que ele toque em alguém que também se sinta como eu. Afinal, para que escrevemos?

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Natália Figueiredo
Clube da Escrita Afetuosa

Da tentativa de achar a palavra certa e nunca encontrar, nascem meus textos | insta: @nataliafig