Cacho de menina

Michelli Pessoa Marinho
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readJul 1, 2022

Molinha, onda do mar, união de movimentos ao balançar. Tóin óin óin de delicadezas. O cacho era o despertar. Despertou Alice, ao querer aquele cabelo. Olhou para o espelho e não encontrou o que queria.

Reclamou para a mãe. Odiava o sem graça, liso, sem curvas. A pequena explicou:

- Quero ter o cabelo da mamãe, enrolado feito caracol na cabeça. Que desce pelos ombros e fica grandão.

A mãe achou graça. Aos cinco anos, Alice era muito esperta. Uma caixinha de dúvidas. Tão pequena e decidida.

Mamãe olhou em seus olhos e afagou os cabelos. Deixou a cesta que carregava nos braços e fez sinal para a filha chegar perto.

- Não escolhemos isso, meu amor. Alice é Alice com tudo que veio nela, inclusive o cabelo. E se o Galego tivesse pelagem preta?

- Deixaria de ser Galego e passaria a ser Preto.

- Você ainda amaria o seu gato?

- Claro que sim, mamãe.

- Então, é o mesmo. Galego viria diferente, e não seria ele. Nasceu com o cabelo louro e se fosse preto, seria moreno.

Alice ficou confusa. A mãe continuou:

- Você seria muito amada, mas não a mesma Alice. As suas características te definem. Te fazem única no mundo. Podemos mudar algumas coisas quando crescemos. O cabelo é uma delas.

E continuou:

- Há muitos tipos de cabelos e todas as meninas são bonitas com eles. Formam a moldura do nosso rosto, dão brilho na aparência.

- O que é aparência? Respondeu Alice.

Algo que você não precisa se preocupar. Alice abriu um sorriso. Deu a mão para a mãe e a chamou para brincar.

#Desafio004/Junho/22/ClubedaEscrita

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Michelli Pessoa Marinho
Clube da Escrita Afetuosa

Jornalista e Radialista. Escritora no @afetodeversos e @vozesdaescrita