Caixa de lembranças

Elaine Alves
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readMar 22, 2022

Sempre dei importância ao passado, meio que tenho um pé lá e um pé cá.

Muitas vezes, isso me leva a um lugar de profunda dor, mas sempre volto carregada de vida.

Pra mim entender quem somos e de onde viemos é tão fundamental quanto existir, acho até, que isso depende daquilo.

Nos dias de encontrar lembrança, me lembro de perguntar minha mãe quem era aquela menina da foto que brincava com uma boneca Barbie. O assombro ao vê aquela fotografia era enorme.

Quem será aquela menina que ainda tão pequena já possuía a boneca dos meus sonhos?

As respostas da mãe sempre foram evasivas e não satisfaziam a curiosidade de uma menina de 10 anos, que via naquela imagem seu sonho tão de perto.

Quem era ela? Eu queria ser sua amiga! Quantos anos teria agora? Será que a boneca ainda estaria perfeita?

A caixa de lembranças da mãe era um portal que tornava aquele sonho mais próximo, tocável!

Como pode a mãe guardar com tanto carinho aquela foto e não saber quem era?

Eu não caía nessa.

Penso até, que a mãe passou a ter atitudes suspeitas quando eu me aproximava e a surpreendia olhando para aquela foto. Será?

Ou será apenas imaginação de uma pré-adolescente que já se deliciava com os livros de mistério da Ágatha Cristie?

Não sei bem…

O que sei, é que minha mãe visitava o passado naqueles dias…

Talvez para aliviar a dor da saudade, ou talvez em busca de respostas sobre si mesma, assim como eu faço hoje.

E os seus olhos marejados daqueles dias, encerravam em si, o maior mistério da minha infância.

Elaine Alves 22.03.2022

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