Cansou.

Dos barulhos, das companhias, dos cheiros de todo dia. Da rotina morna e da falta de expectativas.

Deu as costas.

Deixou pra trás, sem demora, sem tristeza, sem planos. Apenas foi.

Ficou no lugar.

A louça suja do dia a dia. A vida regrada na medida dos outros. A confusão que zumbia no seu ouvido e que não lhe dizia nada.

Sorriu pra si.

Se orgulhou da coragem repentina. Da falta de apego, do amor que sentia por si mesma, da risada contida por tantos anos.

Chorou.

A dor da partida, o tempo perdido, o descaso e o descompromisso. Revolveu as angústias, os sufocos e descuidos. O vazio de uma vida cheia de incoerências.

Desejou.

Um horizonte brilhoso e cheio de possibilidades coloridas. Esqueceu seu endereço, nome, dores e cicatrizes.

Penteou o cabelo de um jeito diferente, usou roupas de outra pessoa, querendo ser outra pessoa.

Mais feliz.

Se iludiu uma derradeira vez com a inocência do talvez.

Fechou os olhos.

Morreu um pouco e experimentou um deleitoso silêncio.

#desafio 02/agosto

#clube da escrita ana holanda