Carola
Carola contava cinco
mas
não
nascera.
Ninguém lhe
Esperava
o agudo do choro.
Ninguém a
Desejar sua miudez entre
os braços, já quentes.
.
Nenhum registro do
momento
exato
em que deixara o
úmido do Lar para
Desabar
no duro das mãos médicas, já cansadas.
Fim de plantão.
.
Nada.
Além do gritar da Mãe
que no movimento
Expulsivo do Parir
Arreganhou-Lhe as Portas
Para Tudo que se possa
Pensar e
também para o
Impensável.
.
Carola chegou como fora feita:
rápida e silente.
Mais costume
que amor.
Caçula de quatro.
A mãe, já exausta.
O pai, já morto.
Morte Matada, bala encontrada.
.
Em seu ir,
levou as paredes da Vida onde
Moravam.
O desamparo absoluto do
Morrer.
Aos vivos, restaram
de herança os
chorares e
a ordem de despejo.
.
Agora, eram cinco a
Ocupar o Chão sob uma
Árvore
no canteiro central.
Abismo entre carros.
.
O fincar de raízes
Compartilhadas com a planta
dava-lhe ares de
Família.
Os galhos, já abraços
e o acolher de um Tudo.
Ideia de Carola, claro.
.
A cabeça da Menina
a Morar no branco macio
das Nuvens.
A sonhar sempre
Sempre.
O imaginar cair de
boia salva-Vidas.
.
Por nada possuir,
Carola Tudo tinha.
Tinha:
bicicleta de andar no vento;
balão de voar no espaço;
chinelos de levantar voo;
alto alto.
.
Em seu voar, Carola pedia à
Mãe remédio de curar rádio.
Rádio, Filha?
A Mãe quis saber.
Acho que o rádio de Deus está quebrado
se as vozes de vento que canto na noite
não chegam até lá
onde estarão?
onde?
#Desafio 02abr2022