Carola

Andreza Lucena
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readApr 12, 2022

Carola contava cinco

mas

não

nascera.

Ninguém lhe

Esperava

o agudo do choro.

Ninguém a

Desejar sua miudez entre

os braços, já quentes.

.

Nenhum registro do

momento

exato

em que deixara o

úmido do Lar para

Desabar

no duro das mãos médicas, já cansadas.

Fim de plantão.

.

Nada.

Além do gritar da Mãe

que no movimento

Expulsivo do Parir

Arreganhou-Lhe as Portas

Para Tudo que se possa

Pensar e

também para o

Impensável.

.

Carola chegou como fora feita:

rápida e silente.

Mais costume

que amor.

Caçula de quatro.

A mãe, já exausta.

O pai, já morto.

Morte Matada, bala encontrada.

.

Em seu ir,

levou as paredes da Vida onde

Moravam.

O desamparo absoluto do

Morrer.

Aos vivos, restaram

de herança os

chorares e

a ordem de despejo.

.

Agora, eram cinco a

Ocupar o Chão sob uma

Árvore

no canteiro central.

Abismo entre carros.

.

O fincar de raízes

Compartilhadas com a planta

dava-lhe ares de

Família.

Os galhos, já abraços

e o acolher de um Tudo.

Ideia de Carola, claro.

.

A cabeça da Menina

a Morar no branco macio

das Nuvens.

A sonhar sempre

Sempre.

O imaginar cair de

boia salva-Vidas.

.

Por nada possuir,

Carola Tudo tinha.

Tinha:

bicicleta de andar no vento;

balão de voar no espaço;

chinelos de levantar voo;

alto alto.

.

Em seu voar, Carola pedia à

Mãe remédio de curar rádio.

Rádio, Filha?

A Mãe quis saber.

Acho que o rádio de Deus está quebrado

se as vozes de vento que canto na noite

não chegam até lá

onde estarão?

onde?

#Desafio 02abr2022

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Andreza Lucena
Clube da Escrita Afetuosa

Escrevo sobre as (des)importâncias e (in)utilidades da vida. Estou no @escrevoemmaiusculo. Aguardo você! =)