Conexão cinza

Natália Figueiredo
Clube da Escrita Afetuosa
1 min readNov 16, 2020

Hoje, tinham ratos no quintal. Fiquei observando eles correndo do meu muro até o seus ninhos, no telhado da casa ao lado. Eram mais ou menos uns cinco, e me deixei dominar pela aflição, medo e curiosidade. Permiti que estes sentimentos se misturassem a todas as angustias de uma despedida que tinha acontecido pela manhã.

Parecia que eu ia ficar muito triste e cinza, assim como o céu estava, e como eram aqueles ratos. Só que desta vez, eu não fugi. Assim como eu os observava pela janela, olhei para a tristeza que estava para chegar.

Não tive medo de encará-la nos olhos, sentir seu cheiro, ver suas cores e formas. E foi bom entender que a tristeza era eu, mas que eu não era só tristeza. Assim, ela não pôde me tocar por inteiro, como já fez em tantas outras vezes.

Olhá-las nos olhos foi como enxergar toda a tristeza do mundo e senti-la agindo em diferentes níveis, tempos e seres. Há beleza nela, mas nem por isso é preciso abraçá-la.

A observo de perto e a deixo partir. Assim que ela toma distância, entendo finalmente o que ela veio me dizer.

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Natália Figueiredo
Clube da Escrita Afetuosa

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