Conversando com o medo
Parece que ando sem medo, mas é falso.
Quem não tem medo?
O medo existe e tenho que lidar com ele e nem sempre sei o que fazer.
É natural, por um lado, mas por outro apenas circunstancial.
Há medo bom e ruim, um defende e outro bloqueia, mas, com certeza não é só isso.
Não sei se angústia que emerge do medo de escrever e expor os pensamentos, seja medo de não agradar, ser ridicularizado ou se perder após o lançamento.
Até hoje não sei se tenho medo de escrever ou medo de me desapegar daquilo que compreendi e produzi como sentido de vida.
Talvez seja medo de que saindo de mim aquele conteúdo não sirva mais para nada e também para ninguém.
Nunca senti nenhum medo ao escrever uma redação, pelo contrário, não via a hora que a professora pedisse mais uma.
Gosto tanto de escrever e me realizo escrevendo que fica difícil refletir sobre a existência de algum medo ou bloqueio.
Pergunto-me: se tenho tanta vontade de escrever livros e se não os escrevo, o que está faltando para que esses livros surjam, apareçam, venham à luz?
Deve existir medo atrás do medo?
Talvez atrás do medo seja o lugar de minha escrita!
Coragem de se desapagar de si mesmo, transgredir, compartilhar as experiências, errar, prescindir do orgulho, perfeccionismo, academicismo, egoísmo, abrir-se livremente ao outro sendo mais eu.
Coragem para: deixar o profundo dos fatos e adentrar a superfície dos acontecimentos;
Não ser eu no outro, nem tão pouco o outro em mim, mas depois do encontro com o outro, ser mais eu e o outro mais outro;
Abdicar da segurança da teoria, gramática, dialética e abraçar a insegurança dos movimentos aleatórios das letras no ir e vir dos devires;
Agir “a despeito do medo”;
Escrever afetuosamente!
Desafio 1 / Fevereiro 2022