Deixar estar
Eu olho pra ele e não consigo dizer não.
Queria poder. Não posso.
Queria limitar. Não limito.
Deixo me invadirem com minha ausência.
Depois, vem desalento.
Mas como sou resiliente, lido bem com a adversidade e sigo em frente.
Em uma vida um tanto inconsistente. Nublada.
Depois resolvo. Depois eu vejo. Depois eu converso. Depois…
Um depois que nunca chega.
Só chega na urgência.
E na urgência não há como NÃO impor limites.
Só que não é a gente que coloca, é a vida.
Ela diz “CHEGA” para situações que deixamos estar, só estar.
Nem a vida aguenta.
A gente teima em suportar.
Vem um aviso. Outro alerta.
Um sinal mais efusivo, em letras neon.
E a gente cisma, só mais um pouco…
Só até amanhã e depois e depois e depois.
Passam assim quase 20 anos.
Os outros dizem: “como você suporta”?
“Como aguenta”?
Nem eu sei…
Só sei que, para isso, vou passando por cima de mim mesma.
Até que não me encontro mais,
A ponto de ter que me resgatar em um limbo interior.
Nem o que quero, eu me lembro mais.
Perdi o hábito de ter opinião.
Não enxergo mais a clareza dos limites
O outro vai nadando de braçadas neste mar,
Até que vem o tsunami.
A vida impondo o que não tive como marcar.
A mãe natureza complacente invade.
Derruba tudo.
O que um dia foi e o que poderia ter sido.
E eu? Só deixo estar…