E se foi a brincadeira de roda

Mironga da Cachimba
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readMay 30, 2022

Que horas são, senhor? Obrigado
Olha, criançada chegando na escola
Bons tempos, né?
Pena que se foi a brincadeira de roda
No meu tempo a gente reunia os amigos
Para jogar, brincar, inventar

No meu tempo, criança corria cotia
Era pega-pega, esconde-esconde
Pular corda, elástico, estátua!
Elefantinho colorido… Que cor?
Amarelo!

Tinha nada dessas coisas de celular
Internet, rede wi-fi
Navegar, só se fosse pegando carona
Na cauda do cometa e voltar pra casa
No lindo balão azul

No meu tempo, perguntava para a estrela-guia
Por onde anda meu sonho encantado?
Era fada-madrinha raiz, com vara de condão
O coração sonhando acordado
A carruagem não seguiu mais viagem

O trem da alegria não pede mais passagem
O amor que eu preciso, o paraíso e a doce paisagem
Estão a um ou dois cliques, tudo na palma da mão
Magia e fantasia, antes entravam na dança

No meu tempo eu queria era mais brincar
Queria ser criança para sempre
Mas um dia a gente cresce, achando que vai tomar conta do mundo
Ainda quero o azul do céu, o Sol brilhando com certeza!

Era tão bom!
Ixi! Tem coisa do meu tempo
Que a saudade até bate no peito
Era faz de conta, apronta aqui e acolá
Moleque enquanto puder

Eu pulei, brinquei
Fiquei junto, dia a dia
Agora é responsabilidade
Boletos, compromissos, agenda
Trabalho, estudo, academia

Viver virou sobreviver
Não é mais uma aventura, pra quem sonha e quem procura
É estresse, ansiedade, burnout, depressão
Toma remédio, aquieta o facho

Faz aula online, medita online
Estuda online, tá online? Te mandei mensagem
Porque não responde?
No meu tempo tinha dessas coisas não
Era escrever carta e esperar resposta

O meu tempo era meu
Bons e velhos tempos
Não reclamo, não, o mundo muda, né?
E a gente que mude com o mundo
Era uma vez, em terras distantes…

Nunca ouviu? Não sabe o que é?
Seu tempo é outro, né?
Um dia, com mais tempo, te conto
Meu ônibus chegou, até logo.

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Mironga da Cachimba
Clube da Escrita Afetuosa

Escrevendo e compartilhando minhas vivências na jornada mítico-ancestral, como filho de àṣẹ. Por Gustavo Oliveira.