Encontro com o deserto

Natália Figueiredo
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readJun 22, 2021

Sempre gostei do deserto, antes mesmo de conhecê-lo. Me encantava ao vê-lo em filmes de cowboy, na novela das 9 ou ao ler sua descrição em algum livro sobre o Oriente Médio.

Não sei dizer o que me atraía em um ambiente tão árido e quente. Alguma ligação cármica? Teria eu vivido lá em outras vidas?

Escolhi visitá-lo em terras vizinhas, latino-americanas. E quando finalmente pude encontrá-lo, fiquei sem fôlego.

Eu já o amava no que imaginava ser um cenário meio monótono e ríspido. Imagina ao descobrir a riqueza de seus tons? Que há pequenas flores, lindas e delicadas, brotando da aridez de seu solo?

Rochas que imitam formatos de dinossauros, rostos de pessoas ou o que sua imaginação determinar. Há ainda cavernas, chãos de sal, cactos, flamingos e uma infinidade de vida que teima em sobreviver às temperaturas mais extremas: muito calor de dia, muito frio de noite.

Observar sua imensidão e sua riqueza de detalhes foi como encontrar um velho amigo que resolveu me receber e me mostrar seu olhar sobre a vida. Me fez sentir medo, alegria, admiração gratidão. Me fez sentir viva.

Hoje, vivemos desertos de vivacidade. Há uma cientista que achou até nome pro sentimento coletivo: definhamento. Em um tempo suspenso, estamos estagnados pela tristeza e pelo medo do luto e não há muito espaço para a alegria quando ela não pode ser vivida e compartilhada plenamente.

Fecho os olhos e lembro do meu deserto: desejo que nasçam flores e que meu céu volte a ter um mar de estrelas a me observar.

Música-inspiração:

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Natália Figueiredo
Clube da Escrita Afetuosa

Da tentativa de achar a palavra certa e nunca encontrar, nascem meus textos | insta: @nataliafig