Encontro com o deserto
Sempre gostei do deserto, antes mesmo de conhecê-lo. Me encantava ao vê-lo em filmes de cowboy, na novela das 9 ou ao ler sua descrição em algum livro sobre o Oriente Médio.
Não sei dizer o que me atraía em um ambiente tão árido e quente. Alguma ligação cármica? Teria eu vivido lá em outras vidas?
Escolhi visitá-lo em terras vizinhas, latino-americanas. E quando finalmente pude encontrá-lo, fiquei sem fôlego.
Eu já o amava no que imaginava ser um cenário meio monótono e ríspido. Imagina ao descobrir a riqueza de seus tons? Que há pequenas flores, lindas e delicadas, brotando da aridez de seu solo?
Rochas que imitam formatos de dinossauros, rostos de pessoas ou o que sua imaginação determinar. Há ainda cavernas, chãos de sal, cactos, flamingos e uma infinidade de vida que teima em sobreviver às temperaturas mais extremas: muito calor de dia, muito frio de noite.
Observar sua imensidão e sua riqueza de detalhes foi como encontrar um velho amigo que resolveu me receber e me mostrar seu olhar sobre a vida. Me fez sentir medo, alegria, admiração gratidão. Me fez sentir viva.
Hoje, vivemos desertos de vivacidade. Há uma cientista que achou até nome pro sentimento coletivo: definhamento. Em um tempo suspenso, estamos estagnados pela tristeza e pelo medo do luto e não há muito espaço para a alegria quando ela não pode ser vivida e compartilhada plenamente.
Fecho os olhos e lembro do meu deserto: desejo que nasçam flores e que meu céu volte a ter um mar de estrelas a me observar.
Música-inspiração: