Entregando um pouco da Bia

Bianca Kiszewski de Medeiros
Clube da Escrita Afetuosa
3 min readMar 10, 2022

Meu nome é Bianca Kiszewski de Medeiros, mas me chamam de Bia. Bianca é apenas em formalidades ou quando a mãe ficava braba comigo. Ficava porque depois que a gente sai de casa e se torna visita para os pais, é raro brigar. Hoje tenho 37 anos e moro com meu namorado tem alguns meses. Quando me separei do primeiro relacionamento voltei a morar com os pais, deixei de ser visita e revisitei por alguns meses o que era se desentender com eles e com meu irmão, 8 anos mais novo. Mas ainda bem que tudo nessa vida passa e depois fica na memória aquelas lembranças de dias desconfortáveis mas cheios de amor.

Virginiana que assistiu muita novela na infância, eu achava que a minha vida também seguiria um script, mas aos 28 anos abandonei um desses roteiros na vida profissional. Eu era química, estudante de engenharia e funcionária em uma renomada indústria de tintas e tive a sorte de fazer um curso de comunicação assertiva na empresa e escutar da fonoaudióloga que eu já falava bem. Naquele momento me dei conta que eu não me expressava porque eu não gostava do que fazia. Semanas depois deixei para trás a indústria e o poderoso quase título de engenheira. Voltei a ser estagiária em Recursos Humanos e me graduei nesta área. Ali eu falava, escrevia e era tão leve, tão reconhecida, tão eu. Depois disso viciei em cursos, livros, viagens. Tudo se tornava cada vez mais curioso, interessante, necessário. Era sede porque eu tinha descoberto um portal que me levava para fontes onde eu queria beber. E essa sede não cessa.

Esse autoconhecimento teve um preço. Comecei a mudar e a me sentir desconfortável dentro do meu relacionamento de 16 anos e mais desconfortável ainda por cogitar a possibilidade de encerrar uma história tão longa e tão rara em dias como os de hoje. E ali perder o script era perder total noção do que viria pela frente. Eu nunca tinha sido uma adulta solteira e não era isso que eu queria. Queria poder chamar o RH e procurar um estágio para me ambientar, mas não havia essa opção. Me separei e como sempre busquei ser prática e seguir como se apenas tivesse ralado o joelho. Sem muito drama, sem sentir. Um dia escutei em algum lugar aleatório que a dor da separação só perde para a dor do luto e foi então que eu entendi que não era exagero. O que eu não queria, mas sentia e duvidava se era fraqueza, apego, rancor, era dor e ponto. Nesse processo de cura mais cursos, terapias, formações, morar e viajar sozinha foram as experiências mais lindas e incríveis até então daquela que nem sabia comprar uma passagem e nem tinha cartão de crédito.

Eu, que me achava super medrosa, quando escrevo esses trechinhos da minha vida reconheço uma mulher corajosa. Hoje ensino Mindfulness para pessoas que querem olhar com mais amor pro passado e menos ansiedade pro futuro e assim criar memória na vida vivida no momento presente. Além disso, dou aulas de yoga porque a minha relação com corpo nem sempre foi muito boa, pra naõ mencionar péssima. Os famosos padrões de beleza também já vilanizaram aqui e por resignificar o olhar para o corpo como um instrumento para viver eu gosto de compartilhar yoga assim, como um cultivo de saúde e um encontro precioso consigo mesma. A escrita sempre teve um lugar no meu coração, especialmente nas minhas viagens e agora num momento super focado na carreira ela recebe espaço na agenda porque me nutre, me faz sentir viva, quase como receber um carinho e uma conversa querida na casa dos pais, quando se é visita, claro.

01mar22

--

--