Eram vozes

Laura Caldas Chadarevian
Clube da Escrita Afetuosa
1 min readSep 13, 2021

Insistentes,

múltiplas,

infinitas

Eram nomes
Estranhos,

engraçados,

infinitos

Eram multidões

Me tiravam do ar,

me convidavam para dançar,

insistiam em conversar

Demorei muitos e muitos anos para aceitar o convite

Não me enlouqueciam
Tampouco me amedrontavam
Sabia que não vinham do além
Não eram as vozes dos mortos
Ao contrário, eram as vozes dos que pediam para nascer

Um universo completo aqui dentro, amigos e irmãos imaginários, mães artista de novela, pais executivos que me buscavam na escola, casamentos com príncipes e malucos, casebres e mansões, nas Ilhas Maldivas, no Japão, muitos filhos, 3 mil profissões

Tudo tão possível

— Você vive distraída! ralhava o professor e me punia com a nota mínima
— Não pode passar um passarinho que você voa com ele — poetizava aquela outra professora

Cresci achando que eu era ruim em tudo, distraída, amorfa e sem talentos
Fui sacudida por tantos caldos marítimos que imaginei que me faltaria para sempre o ar

A surpresa foi que ao invés de me afogar o mergulho me ensinou outra vez a respirar

Aprendi que desejos, talentos, intuições e sentimentos não se deixam segurar, domar ou matar

Ou se morre com eles ou se vive por causa deles

As vozes que por tanto tempo gritaram alto e roucas dentro da minha cabeça encontraram auto falantes em formato de papel, caneta, lápis, teclado, tela, dedões

Aprendi enfim

palavras escritas são seres vivos pedindo para viver fora de mim

Desde então as cultivo

#desafio002setembro

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Laura Caldas Chadarevian
Clube da Escrita Afetuosa

Entre poesias, contos, roteiros, desabafos, fantasias, procuro-me. Portas abertas, entre sem bater.