Escrever é criar ondas nos mares de outras pessoas.
Desafio 002set 2021
Eu adorava brincar de criar ondas na piscina quando criança. Deitado de barriga sobre uma prancha de isopor, eu me balançava com força para desacomodar a água.
A piscina inteira reagia, se inquietava, sacudia quem estava lá do outro lado. Era divertido assistir às pessoas subindo e descendo, para esquerda e para direita, um pequeno maremoto motivado por puro entusiasmo de criar movimento.
Décadas depois, sigo fazendo a mesma coisa nesse marzão da internet. Crio ondas para chamar atenção das pessoas distraídas, despertar a curiosidade das céticas, e construir um abrigo para aquelas que, como eu, buscam refúgio entre as palavras.
Escrita para mim é movimento, dentro e fora, ida e volta, frio e quente, ordem e caos, uma dança entre opostos feitos da mesma matéria-prima, da mesma energia, do mesmo impulso para mudar o estado das coisas.
São para isso meus textos, mudar o estado das coisas, das minhas, das suas, das nossas coisas em comum.
Passei uma vida inteira aprendendo a usar palavras para criar ondas nos mares de outras pessoas, para desacomodar suas águas, inquietar suas piscinas, porque esse maremoto aqui dentro já não cabe mais em mim.
