Eternidade
Com a doença avançada, eu perdia o seu olhar.
Para onde ela estava olhando?
Era um olhar que vagava.
Senti seu olhar cadenciando, um pouco mais intenso, quando resolvi lhe falar sobre a morte.
Eu perguntei:
- O que é a morte para você?
Ela costumaria dizer: “Quando a gente morre acabou”.
Mas a resposta, desta vez, foi diferente:
- Eu não sei.
O silêncio me deu coragem para acrescentar:
- Para mim é como o fluxo e refluxo da maré.
Quando estamos vivos, a morte está latente e a vida, presente. É quando o mar avança em direção à areia e se forma a onda.
Quando estamos mortos, a vida está latente e a morte, presente. É como quando o mar recolhe a onda no refluxo.
Esse movimento não cessa.
Não para.
É contínuo.
Encerra, em si, a eternidade da vida.