Guerra

Elaine Alves
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readApr 27, 2022

Nunca imaginei ter de escrever sobre a guerra.

Recebi esse desafio do Clube de Escrita que participo, e para mim esse é, de longe, o mais difícil. Alguns dos colegas se sentiram ameaçados de escrever sobre si, de avançar para dentro de sua história. Eu não. Acostumada a transformar em palavras minhas vivências, não sofri. Agora, falar de algo, que nem de longe experimentei, me enche de desconforto.

Enquanto militar, a palavra Guerra era uma constante.

Montar e desmontar arma.

Despir e vestir em minutos.

Acampar em meio ao nada.

Vigílias intermináveis.

Pensar sob tensão.

Estar sob tensão.

Engolir à seco.

Tudo isso, a gente aprende…

Mas nada se compara ao horror de uma Guerra.

Pedi baixa do serviço militar há um ano. Minha batalha pessoal estava pesada demais.

Minha arma era saúde, meu campo de batalha era as trincheiras de um hospital. Minha missão era ajudar a curar, não matar.

Com o tempo, tendo visto dores demais, resolvi abdicar.

Tive escolha. Muitos, não as tem.

Se vêem enredados em escolhas alheias, e sentem na pele a dor da incompreensão humana.

Perdem seus lares. Suas vidas. Sua esperança.

Nesses anos na saúde me mantive intacta da força quase irresistível de desumanizar pessoas, transformando-as em números ou diagnósticos.

Mais de um milhão de pessoas forçadas a deixar suas casas e enfrentar duras realidades nas fronteiras no leste europeu, tudo em questão de dias.

Irina Lopuga, refugiada que ficou dias fugindo em direção à cidade fronteiriça de Przemyśl, na Polônian, onde se despediu do seu companheiro de vida. Ele obrigado a defender seu país.

Bianova, de Vinnytsia, incrédula, diz que, achava a guerra uma parte inimaginável das gerações anteriores.

Nelya Tkachenko, 41 anos, refugiada e apartada dos seus familiares na Ucrânia diz: “Metade do meu coração eu deixei para trás, metade eu trouxe comigo”. (Fonte: National Geographic).

São pessoas. Não são números. Assim como no passado, na minha outra vida recente, os tumores não eram só tumores. Eles eram parte de alguém.

SÃO GENTE!

Com suas histórias. Sonhos interrompidos. Carregando seus lutos.

Vidas.

Vidas subjugadas, arrancadas e transformadas pela ganância humana, que ainda enxerga na destruição a solução dos seus problemas.

Que engano!

desafio03abr22

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