Guerra nas Estrelas, paz no meu universo

Mironga da Cachimba
Clube da Escrita Afetuosa
3 min readApr 1, 2022
Lego — Tie Advanced Prototype — Star Wars

O mês passou muito rápido! Fiquei pensando aqui qual objeto escolher, dentre milhões de possibilidades que possuo. Podia falar da minha coleção de corujas, que faço tem um tempo. Sempre trago alguma diferente de algum lugar ou viagem — elas só apareceram agora na memoria. Pensei no barco de papel que meu pai fazia “com capotinha” como costumava chamar. Olhando pelas estantes, foi ele quem, novamente, pediu para ser escolhido. Quase como se ele disse “me escolhe!” e eu exclamasse um “ah, tem você aí!”.

Minha mãe conta que eu fui uma das primeiras crianças a ter Lego no Brasil e que todo ano recebia em casa algum lançamento — um clube de assinatura, como vemos tantos hoje por aí, com a diferença de não ter celular ou entrega 24 horas. Eu não me lembro dessa parte, mas conforme fui crescendo, o Lego estava ali. Comecei pelos blocos maiores e mais fáceis até chegar aos complexos, com peças pequenas. Os adultos sempre diziam: “não abre agora que você vai perder pecinhas e depois não consegue montar”. Vezes eu obedecia, vezes eu abria com meus coleguinhas mesmo assim. Antes de entender como montava, eram eles quem montavam para mim, enquanto eu esperava ansiosamente para brincar. Aos poucos, fui aprendendo a ler o manual e encaixar as peças. Brincava horas e horas. Comecei a desenvolver minhas próprias casas, naves espaciais e mil aventuras.

“Star Wars — Guerra nas Estrelas” é um dos filmes que lembro de ter assistido quando eu tinha meus 11, 12 anos. A cena que ficou na minha cabeça era do Luke Skywalker, o protagonista, se segurando com apenas uma das mãos, enquanto a nave Millennium Falcon o localizava e resgatava. Eu só não recordava como ele tinha ido parar ali. Anos depois, reassistindo, é a cena em que ele luta contra Darth Vader e ele conta que é seu pai: “Luke, eu sou seu pai”. Rola um breve diálogo do pai convidando o filho a se juntar a ele no Império Galático para dominar o Universo. Incrédulo, Luke, já sem uma das mãos, se recusa e se atira pelo tambor de lixo para fugir. Assim, ele vai parar na antena.

Cinema, pai e filho. Três palavras que conectam o objeto com a lembrança. No Shopping Plaza Sul, em São Paulo, fizeram uma edição especial e passaram a primeira trilogia no cinema. Era meu pai e eu. Encontrei alguns colegas de escola, que se encontraram para assistir juntos. Mas era eu e meu pai, juntos. Apesar da separação, durante minha infância tivemos muito contato: viajava, dormia na casa dele. E assistir Star Wars, com meu pai, é marcante para mim. Segui acompanhando a jornada. Assisti a todas as novas trilogias, comprei camisetas, DVDs, álbuns de figurinha, livros em 3D com os projetos dos robôs e naves. Não decorei, claro, todos os personagens e nomes de sistemas ou povos. Sou fã do meu jeito. E uma das naves que sempre quis ter era justamente a Tie Fighter do Darth Vader. Anos e anos se passaram até eu comprar essa, como presente de Natal, de mim para mim mesmo. Rodei com meu irmão várias lojas de brinquedo, até achá-la, na última que entramos. Ele me deu metade do dinheiro como presente.

Não é a versão original, mas um protótipo dos modelos mais modernos da nave. Mesmo assim, Lego, Star Wars e Tie Fighter me conectam com cinema, infância, meu pai e nossa história. Talvez meu inconsciente visse meu pai como Darth Vader, o poderoso vilão e eu, o pequeno Luke, em busca de resgatar e entender como tudo aconteceu. Tivemos nosso rompimento e a posterior reconciliação. Assim como no filme — perdão o spoiler — Darth Vader e Luiz Leôncio morrem. Darth, nos braços de Luke. Luiz no hospital, de câncer, depois que entrou em coma. Disse a ele “descansa, não precisa mais sofrer, fizemos o nosso melhor e está tudo bem agora”. Darth Vader se redimiu salvando o filho no final. Eu e meu pai nos resgatamos ainda em vida.

Lego, Star Wars, cinema, infância, pai e filho. Assim, em uma galáxia nem tão distante assim, como toda boa saga, repleta de reviravoltas e batalhas, internas e reais, a redenção. É. A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Não sei. Uma bandeira branca foi erguida entre pai e filho. A paz, no meu universo, voltou a reinar.

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Mironga da Cachimba
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Escrevendo e compartilhando minhas vivências na jornada mítico-ancestral, como filho de àṣẹ. Por Gustavo Oliveira.