Histórias sobre um carrinho de rolimã e um Jeep Renegade

Patricia Moura
Clube da Escrita Afetuosa
2 min readMar 12, 2022

Os comerciais de TV são capazes de cativar pessoas. Eu gosto muito de assisti-los. Os bem-feitos. Alguns são capazes de marcar a história de uma geração ou uma cultura de comportamentos. Outros são tão criativos que transcendem a importância do produto que ali pretende lembrar. Pensando melhor, agora fica mais claro para compreender as perguntas e os comentários difíceis de responder que são proferidos por profissionais do marketing. Tipo “Qual o seu propósito?”. Ou, ainda: “em vez de objetos ou serviços, vendemos experiências.”.

Recordo-me de um comercial que, a mim, foi surpreendente. Convidou-me a uma viagem por imaginários e memórias de infância. Contava sobre uma menina que brincava espontaneamente com mais dois meninos. Eles tinham como cenário um extenso quintal arborizado e com chão de terra molhada. Não sei se molharam na brincadeira anterior. Tudo parecia muito divertido daquele jeito para ela. Rostos felizes e corpos interagindo como numa dança harmoniosa de anjos. Ela, até meio suja de lama, tinha seus cabelos parecendo mais descabelados do que esvoaçados. Sentava-se em seu trono sem, sequer, o mínimo para os bons modos de uma jovem princesa. Era o seu carrinho de rolimã que compunha o cenário do pátio-palco para contracenar com os três. Reinava com sua alegria, compartilhada com seus fiéis mosqueteiros e companheiros de aventuras. Juntos, alcançavam expressões de liberdade e desprendimento. Talvez fosse legítima a sensação, já que não tinham em seu entorno os olhares intolerantes de qualquer adulto insensível de infância. Era quase como se pudessem ali ensaiar o inusitado das possíveis descobertas de mundo e de vida que estavam por vir em seus futuros. Brincavam. De verdade. Isso foi possível para ela. Liberdade para ser menina do jeito pleno que isso possa parecer para aquele momento da sua vida.

Tão logo explorada as cenas de brincadeira de infância, chegaríamos às cenas de experiências aventureiras daquela ontem-menina-hoje-mulher. Pilotava seu Jeep Renegade, sentindo-se dona do seu destino. Aventurava-se com determinação quando desbravava territórios instáveis, irregulares ou quase inóspitos. Segura de si e feliz por isso, trilhava seus próprios caminhos de futuro. Podia estar por perto ou bem longe. E tudo bem se parecessem incertos estes caminhos. Naquele momento, não importava mais a distância. Tinha alimentos de histórias de vida que levaria em sua bagagem por quais fossem os territórios de exploração que seus mapas lhe propusessem. O respeito a si própria, aos territórios que habitaria e àquelas pessoas que honrariam essas mesmas histórias se decidisse compartilhá-las. A certeza era a dos imprevistos. E o comum ficou com o que há entre o carrinho de rolimã da ontem-menina e o Jeep Renegade da hoje-mulher. Sonhos e desejos de liberdade e de realização.

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Patricia Moura
Clube da Escrita Afetuosa

Psicóloga e Bordadeira. Eu gostaria que a minha presença pudesse fazer a diferença na sua vida e, de alguma forma, isso faz toda a diferença para mim.